sexta-feira, 6 de agosto de 2010

E para o Leste: Praga!


Praga.

Nada como uma segunda chance. Chegamos em Praga por volta das 16hs e na estação foi um stress absurdo para conseguir trocar dinheiro, comprar bilhetes de metrô (já que não havia sequer uma bilheteria aberta), entrar no metrô completamente lotado e depois achar o nosso hostel, já que Praga conta um sistema de numeração de casas e edifícios tão burro (ou tão genial) que eu imagino que só a Luciana Gimenez (ou o Stephen Hawking) entenderiam de primeira. Mas depois de 2h30 após a chegada a Praga conseguimos encontrar nossa hospedagem.

Enfim, a má impressão acabou aí. Assim que chegamos ao hostel (Little Town) ficamos em dúvida se aquilo estava certo mesmo. O aposento tinha um quarto enorme com seis camas, cozinha completa e tinha até bidê no banheiro. Sério, não que sirva pra alguma coisa, mas é algo raro de se encontrar hoje em dia. A localização era excelente, fora, mas bem perto do centro e com uma bela vista para o castelo da cidade que fica no alto de uma colina.

Saímos para andar e o caminho mais curto para o centro era pela Charles Bridge. Pronto, Praga é a melhor cidade do mundo. A ponte é impressionante, desde os seus portões medievais, passando pelas estátuas (dessa vez com temas católicos e também medievais) como pela vista do rio Vltava, do castelo e de todo o centro antigo da cidade. Para completar a paixão a segunda vista, rolou um Starway to Heaven (do Led Zeppelin, para os que não são desse planeta) por uns artistas de ruas, só no violoncelo. Demais.


Vista do castelo de Praga pela Charles Bridge.


O centro de Praga e o rio Vltava.

A cidade estava lotada. Neste dia havia um show numa ilha do rio Vltava e pela quantidade de pessoas, supomos que era o show do Bobo Moreno (mito máximo dessa viagem, o Frank Sinatra dinamarquês - ver o texto sobre Copenhagen), mas não conseguimos escutar direito. A partir da Charles Bridge, seguimos rumo ao centro da cidade por ruas apertadas e que não dão em lugar nenhum, mas do nada a praça central aparece. Isso é bem legal em Praga, já que por mais que você não tenha a menor idéia do lugar que você esteja, você sempre vai cair no centro antigo. SEMPRE!


O idiota que imita todas as estátuas.


A praça de Praga. Sou um fotografo nato, olha a qualidade.


Manda muito.

A praça é bem legal, mas no mesmo esquema das outras que a gente viu. Showzinho de trompete nas trocas de hora, fonte pra tirar foto, quatrocentos japoneses andando em grupo carregando câmeras fotográficas maiores que eles próprios, igrejas com torres gigantes e por aí vai. Ainda acho as praças de Bruxelas e de Bremen mais divertidas, mas enfim, bem legal. Fomos jantar num lugar indicado pelo recepcionista, dono, mestre dos magos e senhor insônia do Little Town (o cara ficava acordado 24hs, era muito engraçado e ainda deu umas dicas bem legais pra gente; mito!) e enchemos o bucho com uma comida sensacional, duas cervejas e mais sobremesa por 250 dinheiros tchecos (isso dá em torno de 10 euros). Por mais que Berlim tenha sido muito boa gastronomicamente, achei Praga o melhor lugar nesse quesito até agora.

No dia seguinte fomos fazer o tour turístico básico, passando por prédios, museus, monumentos, centro antigo, bairro judeu, banheiros públicos, margem do rio Vltava onde estava acontecendo uma exposição grátis de fotos retratando o lado selvagem da Europa (algumas fotos fantásticas, mas Geiranger parecia mais bonita que todos os lugares).


Mané é a mãe.


Um geólogo deve ter sido responsável por essa coisa horrível.


A praça de Venceslau.


"KK Querida" , nosso grande amigo Caio entrou para o ramo de casas noturnas em Praga.



Josef Manes, O Zé Mané original.

De noite fomos à Karlovy Lázne, dita “a maior balada do leste europeu”. O lugar tem cinco andares, apresentando ambientes com músicas diferentes e tudo mais. O lugar é bem divertido mesmo, mas eu morri por volta de umas 2h30 da manhã já que eu não agüento muito estas coisas. Enquanto isso o Thico estava empolgadaço e chegando na mulherada com todo o swing brasileiro hahahaha. O lado ruim desse lugar é que apareceram uns playboys que se achavam demais (eu acho que eram ingleses) e os caras eram tão otários que do nada eles tiraram a camisa na pista e começaram a rodar. Resultado? A pista esvaziou, a não ser por uns caras meio suspeitos que ficavam olhando pros babacas descamisados (dizem as más línguas que o Vítor também tirou a camisa ao som de “I Will Survive”, vai saber). No fim estes caras arranjaram briga e sumiram.


Taí o lugar.

Por fim, mas não menos importante, nós fomos ao castelo da cidade e lá tem a igreja mais sensacional que a gente viu na Europa. Ela meio que destoa do resto dos prédios da market square, mas ela impressiona e até assusta um pouco. Além desta igreja, jardins, ruínas, outras igrejas menores e alguns museus fazem parte de todo o complexo e dá pra ficar uma manhã inteira lá tranquilamente e depois de tudo, apreciar a vista de Praga lá de cima.


Igreja gigante.


Parte de trás



Por dentro.



Praga, lá de cima, parte 1.


Depois disso, finalizamos Praga subindo ao ponto mais alto da cidade onde tem uma torre, que dizem ser uma cópia da Torre Eiffel. Bom, a subida vale a pena, já que tem uns jardins realmente bonitos e o Thico até tirou umas fotos de florezinhas, mas a tal da Torre Eiffel Cover é bem sem graça (e eles cobram por volta de 4 euros pra subir), já que a vista para a cidade dos jardins mesmo já é suficientemente bonita.


O cara curte tirar foto de florzinha né, fazer o que?



Praga, lá de cima, parte 2.

E olha só, terminei esse texto sem mandar nenhuma piadinha idiota sobre tchecas!

Próximo texto é do Thico falando mais sobre o leste europeu. Até Ljubljana, Dubrovnik ou Split!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Berlim, parte 2: Os dois lados

Mais uma viagem de trem, agora pra Praga, então tenho um tempo livre para escrever sobre Berlim.

Como postado pelo Thico, cheguei a cidade dois dias depois da macacada por causa do spin-off em Bremen e logo de cara ao chegar no hostel, o Thico me pagou uma cerveja. Beleza, minha estadia em Berlim começou bem. O The Circus, lugar que a gente ficou é o melhor hostel até agora, com um quarto enorme e wifi de grátis (esqueçam isso... O hostel de Praga arrebentou com tudo).

De lá partimos para a Alexander Platz, centro político da ex-Berlim Oriental e um dos lugares mais visitados, pela proximidade com a Ilha dos Museus, torre de TV Fernsehturm, portão de Brandeburgo e monumento Siegessaule. De noite, resolvemos subir na Fernsehturm (torre de TV) e apesar de ser um pouco caro, é um lugar bem legal para ver toda a cidade de cima.




A Igreja Neue, localizada na ilha dos museus.



Poseidon, na frente da Fernsehturm.




Fernseturm, a torre de tv que não parece, mas é mais alta que a Torre Eiffel.


De noite demoramos um pouco para achar um lugar legal para tomar cerveja, sem nos sentirmos ameaçados por carecas enormes que andam de braços dados com outros carecas enormes e por aí vai, mas achamos um bar tranqüilo e tomamos algumas cervejas por um preço bem acessível. O engraçado desse bar é que mesmo sendo uma noite fria (por volta de uns 10 a 15 graus), tinha um maluco inglês que suava que nem um porco. No início não percebemos, mas depois de alguns dias, devido a uma situação similar ter ocorrido a um de nós, descobrimos a resposta. O cara estava com caganeira, óbvio!

Foi nos dois dias seguintes que realmente Berlim se tornou a melhor dentre as cidades grandes visitadas. Fomos visitar alguns museus e escolhemos o Pergamon e o Neues. Sério, o Pergamon é uma das coisas mais legais do mundo. Trata-se de um museu que reproduz um templo grego, com peças originais retiradas do local em anos de escavações. As colunas, estátuas e a parte mais legal de todas, as paredes do templo estão lá em boa parte intactas. Na entrada você ganha um guia auditivo que explicam essas paredes, cujo tema é a luta vitoriosa dos deuses gregos contra demônios e monstros. Você mergulha na história devido aos detalhes das esculturas, sensacional. (Obs. As fotos a seguir não são nossas, já que a câmera ficou no guarda-volumes)


Zeus, destroçando três inimigos (os raios que ele solta estão sob a forma daquele tridente do lado esquerdo da foto).



A entrada para o templo.


O Neues por sua vez, tem como principal atração a enorme coleção egípcia, com milhares de papiros, ornamentos, armas, sarcófagos, estátuas, colunas e todas essas coisas egípcias legais. A atração mais famosa e a meu ver a mais impressionante também, é a estátua de Nefertiti. Senão me engano foi descoberta por volta de 1912 e está intacta mesmo depois de 3000 anos (a não ser pelo olho esquerdo) e ainda parece que ela te olha no fundo da alma devido a uma expressão até assustadora de tão imponente. Impressionante (e proibido tirar fotos também).


Uma múmia e uma estátua, exemplo do estado perfeito de preservação da coleção.



Sarcófagos.


Estátua de um cara qualquer aí.



Eu batendo papo com um Neander, na parte da civilização européia do museu.

De noite, conhecemos vários brasileiros no hostel, que tinham conhecido alguns israelenses durante o dia (os caras eram meio malucos e contavam piadas sobre nazismo, holocausto e tudo mais, na boa). Um deles era igualzinho ao McLovin, MITO supremo do filme Superbad.


McLovin!

Fora esses israelenses, entraram umas turcas no grupo, que também contava com um argentino perdidão lá no meio. Ah, uma brasileira tinha um namorado norueguês, então o grupo era composto por uns 8 brasileiros, 3 israelenses, 2 turcas, 1 argentino e 1 norueguês. Bizarro (ainda mais porque israelenses e turcos não se bicam)! Enfim, resolvemos ir num lugar e quando encontramos, fazia parecer a balada brasileira de Amsterdã parecer Ibiza, pra vocês verem o nível.

No dia seguinte eu fui visitar a “Topografia do Terror”, que é um museu com fotos, documentos e notícias de jornais e revistas da época do partido nazista alemão, contando principalmente sobre as ações Gestapo e da SS. O lugar é bem pesado, principalmente uma sessão que conta histórias de famílias judias em campos de concentração, com alguns textos destas pessoas. O mais marcante é um poema de uma garotinha judia a qual tinha perdido seu irmão no dia anterior, que morreu de fome. Quase chorei nesse (e me arrependo profundamente agora por não ter tirado uma foto dele). Depois fiquei pensando o quanto tudo isso marcou a Alemanha, por manterem tal museu, escancarando todas as atrocidades cometidas aberto pro mundo inteiro.


Topografia do Terror.


Bom, acho que isso foi o pouco da Berlim que eu vi. Uma cidade que embora não tão bonita quanto Paris, Copenhagen e Praga (depois eu escrevo sobre ela), é muito mais imersiva e te enche de histórias, das mais bonitas às mais terríveis, às quais você não gostaria, mas que precisa conhecer.

Berlim, parte 1: uma breve introdução


Les trois macaques


Volto aqui para lhes contar os dois dias de Berlim sem o Bruno. Na verdade esse texto não será exatamente um diário do que fizéssemos. Mas sim minhas impressões a respeito da cidade que eu posso considerar a minha favorita de todas (talvez, de longe), e toda a vontade que sinto que morar nela – vou terminar a faculdade antes, é claro. Quando chegamos ao aeroporto, nos arredores de Berlim, minha primeira sensação foi de estar entrando em mais uma cidade qualquer. Até comentei com o Vítor que aquilo ali poderia ser muito bem algum trecho de São Paulo. Felizmente, me enganei. Nos hospedamos num ótimo hostel (Circus) na Berlim Oriental - pelo visto, é o lado onde as “coisas acontecem”.



Vista do quarto do nosso hostel, já dá pra sentir a vibe maneira da cidade.


A cidade tem um clima histórico, até um certo ar decadente, que funciona muito mais como charme do que negativamente. As ruas são largas, por isso, o transito flui bem (embora o funcionamento dos sinais de transito seja bem estranho, tem uns que demoram horas pra abrir, e quando isso acontece fecham rapidamente). A paz de caminhar pelas calçadas e não precisar ouvir buzinas, mas sim muitas pessoas de bicicleta é uma maravilha.


A praça que fica a "moderna" torre Fernsehturm, mais detalhes no texto do Bruno (+ foto)

A culinária típica é baseada em muito Curry (algo que eu não gosto, mas até que o Currywurst é aceitável) e comida turca, essa sim vale muito a pena: primeiro porque é deliciosa, segundo porque vem em boa quantidade, e por último e não menos importante, porque são muito baratas (com uma refeição em Paris você come umas quatro em Berlim num “turcão” da vida). Até gostaria de sugerir um restaurante turco que ficamos fãs e até amigos do dono (mesmo sem conseguir trocar uma palavra em inglês com ele), mas confesso que não lembro o nome, posso dizer que fica no meio da Torstr.


Um verdadeiro Falafel, no Rio eu nunca vi um desses! E Fritz Cola, o mito dos refrigerantes.


Ao contrário de boa parte das cidades européias, a noite de Berlim “funciona”, e a diversidade do que se fazer é incrível. Uma noite nós fomos num barzinho da Westepheiner, tomar umas cervejas de 0,5 L por 4 Euros. Na outra caminhamos pela Oranienburger Str., passamos na Tacheles, um prédio com a cara da Berlim Oriental que é um antro artístico completamente surreal: havia uns cinco DJs tocando música eletrônica e os telões complementando a atração. Uma galera muito variada aproveitando o show, de graça! No segundo andar também parecia estar rolando algo, mas eu não cheguei a subir e mantive a curiosidade para a próxima ida à cidade.


Portão de Branderburgo. Não estava em obras (como a Siegessäule, que era o monumento que eu mais queria ver em Berlim), mas iria ocorrer algum evento ali que acabou com o visual do lugar.

Falando em musica, Berlim é a cidade de maior musicalidade que eu fui nessa viagem (até agora). O que mais se ouve pelas suas é a música eletrônica, ela está em todos os lugares. Desde os sistemas de som de algum carro, até nas barraquinhas de Currywurst, passando pela freiada do metrô (um dos sons mais interessantes que já ouvi para fazer um sampler). Ainda nas estações, é possível encontrar um bom número de músicos fazendo os mais variados sons com seus instrumentos (Lembro de ter visto uma moça fazendo um country com uma voz bem suave que me lembrou Gillian Welsh).
Outro momento musical bem marcante foi a dupla que um violonista e um daqueles tocadores de copo faziam na ilha dos museus, cheguei a gravar num trecho, quando chegar no Brasil eu hospedo os vídeos e apresento a vocês.

Berlim é uma cidade grande que te acolhe como poucas. Acho que dá pra ser feliz por lá sem o estresse que ocorre nos principais centros urbanos. Mas só vou descobrir quando estiver lá, e não acho que vá demorar muito, heim?



Eu na East Side Gallery, parte do muro que ainda sobrevive.
P.s. 1: Em breve a segunda parte, com o texto do Bruno. Amanhã, provavelmente, mas nao garanto nada, estamos no Leste europeu, e aqui o wifi é um terror!

P.s. 2: Ainda há muito o que se dizer sobre essa cidade, quando chegar no Brasil quem sabe não escreva um pouco mais.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

As lendas de Geiranger




Parte 1: A longa jornada


Até um ano atrás acho que nenhum dos leitores desse blog faziam idéia do que se tratava Geiranger. Eu me encaixo nesse grupo; não sei quanto aos outros macacos, mas pelas conversas que tive com o Vítor, ele só veio a descobrir o local quando resolveu dar uma pesquisada nos fiordes noruegueses para analisar um possível roteiro com eles no meio. O que poderia ser improvável devido a custos e localização: ocorreu! E posso garantir em nome de todos aqui que foi o momento mais fantástico da viagem – creio que continuará a ser.

Um dos filmes que mais marcaram a minha infância foi Parque dos Dinossauros (Steven Spielberg, 1993), a partir dele decidi naquele momento que seria paleontólogo, como os protagonistas da história. Atualmente, com a minha opinião (chata) de futuro cineasta, não considero Jurassic Park um grande filme, não está nem próximo dos meus favoritos do Spielberg (sim, eu gosto do Spielberg)... Mas a mágica que ele representou para mim lá nos meus 6 anos, se reflete até hoje. A primeira canção que minha memória buscou ao começar a ver a paisagem incrível no caminho de trem para Geiranger foi o tema do filme. Assim como o Dr. Allan Grant, que ao chegar à ilha dos dinossauros olhou assustado para aqueles seres pré-históricos, os macacos aqui ficaram deslumbrados pelos três dias que se sucederam no fiorde.

Partimos de Oslo para Dombaas (DOMBÓOOS!!!) bem cedo, e nessa primeira viagem em busca de Geiranger já nos deparamos com uma figura ilustre, quem poderia esperar que a Isa, mesmo sem joelhos, conseguiria chegar tão longe... Mas ela chegou!!


Olhem a Isa ali na frente, pena que ela nem deu papo para gente. :/

Em Dombaas, basicamente saltamos de um trem para o outro. Próxima parada: Åndalsnes, o ponto mais ao norte da nossa jornada (62º34’N 7º42’E). O trecho já começava a ser um preview de tudo que estava por vir, o trem vai parando nas principais pontos naturais, construções e até uma civilização (Bjørli, um povoado de 150 pessoas, onde a maior atração – aparentemente – é aguardar a passagem do trem com turistas curiosos). Ficamos bem impressionados com a cor da água, um azul que eu só tinha visto algo parecido naquelas fotos promocionais do Caribe, etc. Nesse momento decidimos que custe o que custar (o frio intenso naquele lugar, em especial), nós mergulharíamos na água de Geiranger (por isso, continuem lendo e descobra se fomos machos o suficiente!).


As imagens falam por si só.


Chegando a cidade mais nórdica da nossa viagem: se não fosse pela parada dos ônibus que levam aos fiordes da região e a paisagem belíssima, a cidadela poderia ser mais uma Katrineholm da vida (que a partir de agora se tornou sinônimo de “limbo”/”vazio”). Acredito inclusive que existiam pessoas para se ver no nosso ângulo de visão muito graças aos japoneses (que invadem qualquer parte do mundo: até lá!).


Mais uma cidade deserta para o currículo




Bruno fazendo trabalho de campo de geologia até quando tá de férias.

No busão íamos, enfim, em direção a parada final. Antes de continuar a rasgação de seda necessária pela natureza norueguesa é necessário comentar a figura épica do motorista, um mito que fazia curvas perfeitas em desfiladeiros onde um erro é fatal (frase pronta ideal para o momento)!


Vai tentar dirigir aí, vai.


Mais algumas paradas: todas já nos indicavam que nossa escolha por fazer um looping maluco no roteiro do mochilão tinha sido um tiro no alvo. Não sei ao certo quando a música do Jurassic Park surgiu no meu consciente, mas a travessia de barco para chegar a Geiranger seria um belo momento para essa narrativa.

A partir daqui eu aconselho que vocês leiam ouvindo a música (se quiserem ter a mesma sensação que eu, se não, ignorem!):




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Parte 2: Chegada e o primeiro encontro com os (ex)soviéticos



Os três na mesma foto. Coisa rara!

As 6 e pouco da noite já caminhávamos nas terras do Fiorde em busca de um camping para nos acomodarmos (os japoneses obviamente foram para o hotel 5 estrelas). Com pouca paciência e muita fome, paramos naquele que parecia o mais central e com nome mais óbvio: Geiranger Camping. Acho que nossa primeira escolha foi perfeita (o camping), a segunda nem tanto (o local para se acampar)... Montamos nossa humilde barraca ao lado de um bando de tendas com TVs LCD, frigobar, isso sem contar os trailers dos magnatas. Após certa “luta” com a barraca, ela estava armada e nós estávamos a comer no primeiro almoço de verdade do dia (umas 7 e pouco da noite), eis que... uma família de russos para de carro na nossa frente e começa a reclamar que nós colocamos a barraca na vaga deles. Aí vocês já sabem, nós pedindo desculpa e explicamos pros sujeitos que não sabíamos que ali era vaga (detalhe, eles tinham espaço suficiente para parar o carro sem precisar encher o nosso saco). Após a suspensão do nosso almoço, retiramos tudo da barraca (leia comida pra caramba, mochilas, roupas) e a recolocamos há uns 5 metros da sua primeira fundação.


Barraca no primeiro e no segundo lugar. Por incrível que pareça ela estava mais segura na frente de uma outra barraca.



Esse encontro com os russos me chamou atenção para a quantidade de turistas do leste europeu (chegou até uma galera da Lituânia lá...), parece que eles são os únicos, além dos noruegueses, que descobriram o lugar de verdade, ao menos para acampar, porque os ricos de verdade ou estavam nos hotéis, ou nos cruzeiros que surgiram lá no mar todos os dias.


Vista da estradinha que levava as trilhas

Feito esse parêntese, voltamos para a nossa aventura em Geiranger. Decidimos que uma caminhada de curta distancia seria uma boa idéia para o primeiro dia: 1. Para testar nosso preparo. 2. Porque já estava tarde, e mesmo lá não escurecendo, não estávamos a fim de ficar perdidos de madrugada naquelas montanhas. Escolhemos uma de uns 2 km (não me peçam nomes, por favor), e descobrimos que estávamos completamente despreparados, em especial o Vítor que sempre vinha uns 10 metros atrás da gente. Mas completamos a nossa primeira trilha, dispostos a arriscar mais no dia seguinte (na volta da trilha o Bruno ainda matou uma lesma preta, racista!!!).



Bruno morrendo, um exemplo do nosso folego para caminhadas.


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Parte 3: As lendas entram em ação


Antes de começar a descrição da nossa longa caminhada, é necessário dizer que a noite foi tensa para mim. Tá certo que estamos no verão europeu, mas estávamos na Noruega, e num lugar bem ao norte do mundo. Detalhe, eu estava SEM sleeping bag! E pior, começou a chover!! Bom, não sei como, mas sobrevivi, mesmo com as minhas pernas congelando em parte (ok, sem exageros, mas eu acordei a noite de tanto frio).

O dia da grande trilha iniciou com um bom café da manhã (na medida do possível), colocamos umas capas de chuva e fomos até o fjordsenter (Central do Fiorde, local para buscar informações sobre trilhas e os fiordes em geral) e decidimos a primeira trilha do dia, o local dessa foto. A verdade é que basicamente caminhamos pela estrada (trilha?) não achamos essa pedra da foto, só um bando de turistas tirando foto do penhasco (que era realmente muito íngreme). Qual é né? Nós podíamos muito mais do que isso! Fomos em direção a algo mais roots: Storseterfossen (com esse nome também). A caminhada foi intensa e com inúmeros escorregões devido ao lamaçal da chuva, encontramos russos (pra variar), uma família de espanhóis enganadores (falaram que faltava pouco pra terminar a trilha... sei sei...), um grupo de franceses... Agradecemos a cada escorregada quando chegamos ao ponto final da trilha: uma queda d’água lindíssima aonde a gente ainda podia passar por baixo dela. Descansamos, deu tempo até para um picnic.



O picnic embaixo da cachoeira


Vista da cachoeira... pouca altura.


Mas somente essa trilha era insuficiente para nós. A partir daí começou a caminhada que nos tornaria mitos: Vesterassaetra. Não faço idéia do que significa isso em norueguês, mas deve ser algo como “trilha da várzea”, ou “trilha do riachinho”, caminhamos sobre a água metade 2/3 da trilha (tempo suficiente pra eu ter que jogar 3 pares de meia direto no lixo), contamos com a ajuda de algumas ovelhas para nos guiar pelo caminho (só ovelhas mesmo, porque o local era totalmente ermo), eu até tive meus 15 segundos de fama como pastor.


Thico, o pastor e a ovelha (tinham outras...)


Enfim, chegamos! O final da trilha era um rio, um grande córrego. Era lá que nós iríamos honrar com nosso compromisso: nós íamos mergulhar na água gélida do fiorde norueguês. O Bruno foi o primeiro a arriscar a vida, saindo são e salvo, eu resolvi tentar também, por fim o Vítor. Aquele mergulho pareceu me renovar uns 5 anos, foi basicamente levar a palavra revigorante ao extremo. E nós não nos arrependemos de nada, diria que se pudesse, até iria de novo. Valeu a pena!



Só pra comprovar os fatos acima (o vídeo do Bruno mergulhando fica pra quando chegarmos no Brasil. Aqui a conexão não tá ajudando.)


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Parte 4: Comentários finais


Os três macacos voltaram para o acampamento com a sensação de dever comprido. 8 horas de caminhada (ida e volta), 16 km caminhados próximos a 700m do nível do mar. Para passar por paisagens únicas, cachoeiras, escorregões múltiplos, ovelhas mijonas, europeus perdidos, e terminar com um mergulho épico numa água com uma temperatura de uns 3 graus!



A noite merecia algo melhor, gastamos um pouco mais jantando uma pizza. Fomos para a barraca e dormimos facilmente após um dia tão agitado, dessa vez eu resolvi utilizar minha mochila como saco de dormir, não é que deu certo (por mais que eu tenha acordado com a perna doendo no dia seguinte)! No dia seguinte partimos de Geiranger às 10 da manhã e agradecemos por cada minuto naquele lugar único.

Quando eu era menor, meu pai me dizia que era uma Lenda na Noruega (sabe como é, aquelas invenções saudáveis que pai faz pra filho). Que ele tinha ganhado inúmeros prêmios lá, seja dos mais nobres como salvar o “reino” norueguês, aos mais bizarros como surfar (?) em algum rio do país. Finalmente eu conheci o país onde o meu pai é uma lenda. Nesse mesmo lugar, eu e meus camaradas Bruno e Vítor, caminhamos quilômetros e mergulhamos no gelo. Seriamos nós lendas norueguesas também?