sexta-feira, 15 de setembro de 2017

A capital do centro do mundo: Quito

“Mas o que que você vai/foi fazer no Equador?”
Eu ouvi essa pergunta várias vezes nos últimos meses. Engraçado como nós brasileiros sabemos pouco sobre um país que é logo ali. Então, pra responder essa pergunta (e também porque não tenho nada melhor pra fazer agora) resolvi ressuscitar esse blog mais uma vez, e contar as histórias dos meus 17 dias na terra dos chapéus Panamá, das bananas e dos vulcões, em julho de 2016.


A primeira parte desse relato (supondo que hajam outras) vai focar nos dias em Quito, capital do país. Eu cheguei na cidade com o Ibyatã, amigo de faculdade do Bruno (que tá há 3 anos enrolando pra postar aqui), que iria chegar 2 dias depois. Ficamos hospedados bem perto do centro histórico, em frente ao mercado central. Largamos as malas no hostel (Community, muito bom) e fomos procurar algo pra comer e dar uma volta. Almoçamos no mercadão mesmo, um típico almuerzo equatoriano, que consiste de uma sopa de entrada, arroz, peixe ou frango, e batata, acompanhados de um suco de amarelo. Comemos isso, ou alguma variação disso, praticamente todos os dias, e os preços alternavam entre 2 e 3 dólares, excelente custo benefício. Aliás, pra quem não sabe, a economia do pais é totalmente dolarizada desde 2000, o que é meio assustador hoje em dia. Felizmente os preços em geral são baixos, basta seguir a velha regra de comer onde os locais comem, evitando aqueles lugares que claramente são feitos pra turista (e mesmo esses ainda são mais baratos que comer no Brasil).

Suco de limão que parece tamarindo e tem gosto de groselha

Não fizemos muita coisa no primeiro dia, basicamente andamos semi-aleatoriamente pelo centro, que é muito agradável e bem cuidado, com destaque pra Plaza Grande, onde fica o palácio do governo, a Plaza San Francisco (apesar das obras do metrô terem atrapalhado), e a Calle La Ronda, que pouco mudou desde os tempos coloniais. Nos informamos sobre coisas pra fazer e a noite ficamos bebendo no hostel. No dia seguinte saímos num walking tour, que passou por lugares que já tinhamos passado no dia anterior, mas é sempre interessante ouvir as histórias por trás de cada praça e igreja. Aliás, como tem praça e igreja nessa cidade. Também é cheia de ladeiras, o que pode dar trabalho pra quem não está acostumado aos 2800 metros de altitude dela. Depois de almoçarmos com o único brasileiro que encontramos na viagem toda, fomos à Casa del Alabado, um museu bem interessante com artefatos pré-colombianos, que contava a história dos povos que habitavam a região antes mesmo da chegada dos incas (que só ficaram cerca de 30 anos por lá até a chegada dos espanhóis). A noite, ficamos de boa tomando cerveja no hostel mesmo, e no dia seguinte iriamos aguardar a chegada do Bruno na cidade…
Plaza Grande

Rua tradicional do centro de Quito. Ao fundo, a virgem de Panecillo.

Plaza 24 de Mayo
Convento de San Francisco, com a obra do metrô estrategicamente cortada da foto.

Calle la Ronda
...só que não. Deu merda e o vôo dele foi cancelado, então ele só chegaria no dia seguinte. Isso meio que complicou os nossos planos, mas já que não tinhamos escolha, decidimos seguir com eles, e o Bruno que se virasse depois. Subimos a torre da basilica nacional (não sem antes desperdiçar 2 dólares no ingresso errado), que tem 115 metros de altura, e oferece uma vista excelente do centro da cidade. Um detalhe interessante da basilica é que eles trocaram os gárgulas tradicionais por animais da fauna equatoriana, como macacos, tartarugas e tatus. Em seguida, fomos até o parque Itchimbia, que é relativamente fora do radar dos turistas, sendo mais frequentado pela população local. O parque é bonito, e tem uma boa vista da cidade. No final do dia, além da tradicional cerveja (em um bar que foi fechado pela vigilância sanitária literalmente no dia seguinte), rolou uma rápida aula de salsa no hostel. Nossa intenção era apenas dar uma olhada, mas fomos intimados a participar por falta de quorum masculino, e até que foi divertido.

Basilica Nacional do Equador

Vista do topo da Basílica


Basílica vista do Parque Itchimbia

Foto obrigatória com a camisa do Curíntia

O outro dia seria o mais ambicioso de nossa estada na capital equatoriana. Iriamos subir o Pichincha, um dos muitos vulcões que cercam a cidade. O plano inicial seria subir o Cotopaxi, mas ele estava fechado por causa de uma atividade recente (e eu provavelmente não daria conta de subir ele de qualquer forma), então precisavamos de um plano B, já que ir pro Equador e não subir nenhum vulcão é como ir pra Budapeste não molhar os pés no Danúbio (entendedores entenderão). O Pichincha é dividido em dois picos, Guagua (onde fica a caldeira, que ainda é ativa) e o Rucu, com fácil acesso do centro da cidade. Para chegar lá, pegamos um ônibus até o teleférico da cidade, que nos levou até cerca de 4000m e de lá caminhariamos até o cume, a 4700m. O inicio da caminhada é tranquilo, com uma trilha bem cuidada e pouco íngreme, mas depois de um tempo a altitude começa a fazer efeito e a trilha desaparece e vira um barranco cheio de areia, cinzas e pedras. Pra piorar, baixou uma nuvem e a visibilidade que estava muito boa no começo ficou péssima de uma hora pra outra, mal dava pra ver 15 metros adiante. Seguimos assim mesmo (o Ibyatã bem na frente, mas pelo menos não passei mal) e depois de umas 3:30 chegamos ao topo, onde não pudemos ver rigorosamente nada. Ficamos bem pouco tempo lá em cima, já que além de só vermos branco, tava frio pra cacete. Descemos em pouco mais de 2 horas, e pegamos um taxi pro hostel, já que ninguem é de ferro. Chegando lá, finalmente encontramos o Bruno (e depois de 7 anos, o nome desse blog volta a fazer sentido!), e depois de umas merecidas cervejas, os 2 decidiram seguir o pessoal até uma balada, enquanto eu resolvi dormir cedo. Relatos posteriores indicaram que a minha decisão foi a correta.

Quito vista do teléferico

Rucu Pichincha


Ibyatã e o abismo. Eu fiz algo pior alguns dias depois.

Nosso companheiro de trilha. Alguem tem idéia de que espécie é essa?
Tudo que deu pra ver do alto do morro.

No dia seguinte foi o nosso último dia em Quito. O Bruno aproveitou pra fazer um walking tour na cidade, enquanto eu e o Ibyatã ficamos fazendo nada (na verdade a gente deve ter feito algo, mas provavelmente foi algo tão irrelevante que eu não lembro). A noite, além das cervejas de praxe, saimos com o pessoal num pub crawl, que terminou numa balada. Eu não gosto de balada (e nem estava bêbado o suficiente pra começar a gostar), então acabei voltando cedo pro hostel. Relatos posteriores indicaram que a minha decisão foi equivocada. Acordamos cedo (uns com mais ressaca que outros), pegamos um ônibus lotado até um terminal que ficava na pqp, e de lá rumamos pra cidade de Latacunga, onde iniciariamos a próxima etapa da viagem. Diz a lenda que o relato será feito pelo Bruno, mas eu esperaria sentado se fosse você.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

A Terra da Longa Núvem Branca: O Fim.

Te Anau/Queenstown


Te Anau é porta de entrada pro Fiordland National Park, na beira do maior lago da ilha, e segundo maior do país. Minha estadia na pequena cidade foi bem curta, apenas pra descansar e escolher pra onde eu iria depois. Acabei me decidindo pelo Mt Cook National Park, então fiquei somente uma noite lá e voltei pra Queenstown, que era de onde o ônibus sairia. Infelizmente estava tudo lotado no Mt Cook então eu tive que ficar mais 3 dias na cidade fazendo nada num hostel bem pior que o que eu fiquei da primeira vez. Passei a maior parte do tempo tentando decidir se eu deveria ou não saltar de Bungee Jump, mas no final os 260 dólares que eles cobravam pelo de 130m (o de 40m custava 180) foram mais fortes e eu deixei pra lá.

Mt Cook


O Mt. Cook National Park fica na região central da ilha, e eu sai de Queenstown bem cedo. O dia amanheceu nublado, mas no caminho até lá paramos no lago Pukaki e como se fosse tudo armado, as nuvens se abriram e revelaram a montanha mais alta do pais, que somada ao azul intenso do lago forma uma vista impressionante. Cheguei a vila do parque por volta do meio dia e como de praxe fui atrás de trilhas leves pra começar.  Escolhi a do lago Hooker, uma trajeto plano que levou cerca de 1:30 de caminhada a partir do hostel. O lago não é bonito, meio esbranquiçado e a geleira que desemboca nele é cinza. Mas a vista do Mt. Cook (Aoraki – O Perfurador de Núvens, na linha maori) é impressionante, parece que você pode nadar até ele. Obviamente não é pra tanto, mas ainda assim são apenas 10km horizontais até o cume, ou seja: é muito perto. Falando em nadar, reencontrei o holandês e o coreano de Franz Josef lá, e apostei cerveja com eles de que eu mergulharia no lago. Tinha icebergs boiando e uma massa de gelo de alguns km² logo ali na frente, então vocês podem ter noção da temperatura da água. As coisas que uma pessoa do sexo masculino faz por cerveja de graça... Enfim, mergulhei, e assim como em Geiranger na longínqua Noruega no não menos longínquo ano de 2010, a água é tão fria que você sai dela suando. Parando pra pensar agora, tem uma foto minha mergulhando de cueca no lago na câmera do holandês. Espero que ele não esteja usando ela pra fins escusos. Voltamos pro hostel, jogamos um pouco,  tomei minhas cervejas gratis e fui dormir cedo porque a trilha do dia seguinte prometia ser pesada.


Lago Pukaki e Mt. Cook

Mt Cook National Park

Água quentinha. Só que não.


A trilha citada era a do Mueller Hut, um alojamento no meio das montanhas, a 1800m de altitude, e eu fui com um inglês e um alemão do hostel. A primeira metade da trilha é um saco: 500 metros de subida numa escada com degraus completamente desnivelados, de forma que não ajuda muito na hora de subir (mas são uma maravilha pra descer), no meio de uma floresta bastante úmida, que somada ao calor incomum do dia cansou bastante. Alcançamos um mirante (onde a maioria das pessoas dá meia volta) e chegamos na parte divertida: uma subida no estilo “se vira negão”, apenas com pequenos postes coloridos indicando pra que lado você deve ir, mas como se chega lá é com você. Essa parte era ainda mais íngreme, mas pelo menos você sente que está fazendo algo de útil, ao invés de simplesmente subir uma porcaria de escada. Depois de cerca de 3 horas do começo chegamos em outro mirante, com vista espetacular do vale, das geleiras e do Mt. Cook. Eventualmente escutavamos algo parecido com um trovão, e viamos pequenas avalanches nas montanhas do outro lado do vale (ou que pareciam pequenas de longe). Mais uns 10 minutos de caminhada fácil e chegamos no alojamento. Ele é bem legal, com capacidade pra 28 pessoas e uma cozinha melhor que a de muitos hostels. Almoçamos lá e decidimos subir o pequeno morro que tinha atrás do alojamento. Depois eu descobri que foi a primeira escalada que o Sir Edmund Hillary fez na vida, o que obviamente significa que eu estou no caminho certo e que um dia subirei o Everest. Ficamos umas 2 horas no alojamento (eu devia ter dormido lá, mas eu já tinha pago a segunda noite no hostel) relaxando e assistindo o gelo se desprender nas geleiras próximas, e depois descemos (nessa hora eu agradeci pelas escadas). Cheguei morto de cansaço no hostel, joguei mais um pouco com o pessoal, tomei mais cerveja as custas do holandês e capotei na cama. No dia seguinte pensei em finalizar minha estadia no parque com uma caminhada curta, mas minhas pernas tavam doendo, então tudo que eu fiz foi esperar meu ônibus pra Christchurch e deixei a vila no início da tarde. 



Mt. Cook e Lago Hooker vistos do mirante.

A vila láááá embaixo.

Do topo do Mt. Olivier (~2000m)

Mueller Hut com o Mt. Cook ao fundo.


Christchurch



No caminho paramos no lago Tekapo, que tem um azul ainda mais impressionante que o Pukaki, mas sem a vista da montanha. Gostei mais do Pukaki, mas a maioria das pessoas preferem o Tekapo. Enfim... Christchurch é a maior cidade da Ilha do Sul, e terceira maior do país, com 350 mil habitantes. A cidade ganhou os noticiários do mundo inteiro 3 anos atrás pelo terremoto que matou cerca de 200 pessoas e transformou o centro da cidade na maior concentração de lotes vazios per capita do mundo (essa estatística eu acabei de inventar). Ou seja: não tem porra nenhuma pra fazer. O que tinha de interessante da cidade ou ta interditado (os prédios históricos que resistiram estão passando por uma reforma estrutural completa) ou simplesmente não existe mais. Era um dia de semana, começo da tarde, e eu poderia andar no meio da rua se eu quisesse, mesmo em vias que não estavam fechadas ao trânsito! Fico na esperança de que façam algo legal na reconstrução da cidade como fizeram em Napier. Minha intenção inicial era ficar somente uma noite na cidade, comprar uma passagem barata (na medida do possível) pra Auckland e a partir daí decidir meu próximo destino. Como obviamente as passagens tavam muito caras eu decidi arriscar, visitar algum outro lugar próximo e comprar as passagens depois. Minhas melhores opções eram Arthur’s Pass, no meio dos alpes, e Kaikoura, no litoral, e a escolha seria puramente financeira. Pra facilitar minha escolha, acabei conhecendo uma francesa no hostel que me ofereceu uma carona até Arthur’s Pass, mas somente no dia seguinte. Peguei mais uma noite no hostel, e no outro dia no começo da tarde rumamos para montanha.


Lago Tekapo

Arthur's Pass



Arthur’s Pass é um belo vale relativamente fora do radar da maioria dos turistas, a umas duas horas de carro de Christchurch. No caminho para lá paramos no Castle Hill, um pequeno parque repleto de grandes rochas de calcario aleatoriamente “jogadas” numa colina, bem legal e continuamos para aquela que é a menor das “vilas de um restaurante, uma casa e dois hostels” que eu visitei. Fomos até uma cachoeira próxima (Devil’s Punchbowl) de 130 metros de altura, a francesa seguiu viagem e eu fui pro hostel. O parque tem diversas trilhas com vários níveis de dificuldade, e é o segundo parque com maior número de mortes de turistas burros no país, atrás apenas do Mt. Cook (que é bem mais visitado). Escolhi a do Avalanche Peak, uma das mais fáceis, que ainda assim tinha nível de dificuldade considerado alto, com 1800 metros de altitude.



Castle Hill

Devil's Punchbowl


A trilha é bastante inclinada do inicio ao fim, mas estranhamente eu não me cansei muito. Talvez eu estivesse ficando bom nesse negócio de subir morro, ou então a australiana que tava comigo que era muito devagar. Também não é recomendada pra quem tem medo de altura,já que em algumas passagens se anda bem na beira de um abismo. Enfim, chegamos ao topo em pouco menos de 3 horas, almoçamos e recebemos a “visita” de um kea, um papagaio alpino endêmico da região, que ficou posando pra fotos. Descemos por outro caminho (essa trilha tem duas rotas até o topo, obviamente subimos pela mais difícil), e depois de 3 horas (sim, demoramos mais pra descer que pra subir) estavamos de volta a vila. Muito legal esse lugar, eu ficaria facilmente mais tempo lá pra explorar as outras trilhas, mas eu tinha que pegar um avião e minha comida já tava acabando, então no outro dia bem cedo peguei uma carona de volta pra Christchurch.



Arthur's Pass visto do Avalanche Peak

Mt. Rolleston

Provavelmente a melhor foto que eu já tirei na vida.

Devil's Punchbowl de outro ângulo.


Parei no aeroporto disposto a sair de lá com a passagem pra Auckland comprada. Cheguei no balcão da Air New Zealand e perguntei o vôo mais barato nos próximos 4 dias: 180 dólares pro dia seguinte ao meio dia. Ok, tava mais barato que na Jetstar (a low cost do país). Comprei e fui atrás de hospedagem em Christchurch, mas não achei nada por menos 60 dólares. Ou seja: eu não iria só ter que passar a noite no aeroporto. Eu ia passar UM DIA INTEIRO no aeroporto. Eu poderia ir pra cidade passar o tempo, mas eu já sabia o que tinha pra fazer lá (nada), então preferi ficar no aeroporto mesmo e economizar o dinheiro do busão.  Basicamente o wifi gratis e o 3DS mantiveram minha sanidade durante a noite (obviamente não dormi), e no meio da madrugada anunciaram que meu vôo (que vinha do Japão, por isso que tava bem mais barato que o resto) iria atrasar em 3 horas. Fui no balcão e mudaram minha passagem pra um vôo as 6 da manhã, então ao invés de ficar 24 horas no aeroporto fiquei apenas 18, puta volta por cima! :D


Bay of Islands


De Auckland fui diretamente pra Bay of Islands (meu preferido entre os nomes de lugares genéricos do país), no extremo norte do pais, disposto a relaxar na praia nos meus últimos dias de viagem. O lugar em si não tem nada de mais (as praias, embora bonitas, não chegam aos pés de Abel Tasman), mas o pessoal do hostel era muito legal, e eu não tava a fim de fazer muita coisa mesmo. Fiquei lá 4 dias e voltei pra Auckland pra pegar meu avião de volta pro Brasil. Acho que todas as 4 pessoas que tão lendo já devem conhecer essa história: meu visto de transito australiano expirou, eu não tinha percebido, e não pude embarcar. Na hora fiquei muito puto, mas depois de pensar melhor decidi aproveitar ao máximo o tempo extra do outro lado do mundo. Dei entrada num visto novo (me cobraram 30 dólares por isso...) e me mandei de Auckland em direção à Coromandel.


Bay of Islands


Coromandel


Coromandel é uma península à leste de Auckland famosa por suas praias e florestas. Fiquei na pequena cidade de Whitianga, que embora seja bem sem graça tem fácil acesso às mais belas praias da região. Sendo o mais breve possível (já tô de saco cheio de escrever), foi um final digno pra viagem (bem melhor que Bay of Islands), com praias belíssimas, como a Lonely Beach, a apenas 15 minutos a pé de Whitianga, e a espetacular Cathedral  Cove (mas essa ficava mais longe, uns 20km). Os preços também eram mais baixos do que a média, então até rolava de sair pra beber vez ou outra (5,50 um pint de cerveja, em Queenstown cobravam mais de 8). Voltei pra Auckland depois que meu visto saiu e finalmente embarquei na longa viagem de volta pra casa.



Lonely Bay com Cooks Beach ao fundo.

Cathedral Cove

O outro lado da praia.


E esse foi o fim da minha viagem pra Nova Zelândia. Pra finalizar o post, vou citar algumas impressões básicas de pouca relevância, mas que eu acho que merecem ser citadas:

-Tem MUITO alemão. Chutando baixo, metade do pessoal que eu conheci vinha de lá. Bastante holandês, sueco, suiço e inglês também. Estranhamente poucos australianos.

-Os motoristas de ônibus também servem de guias turísticos, descrevendo pelo microfone os lugares pelos quais passávamos. É interessante as vezes, mas enche o saco depois de um tempo, principalmente quando você quer dormir e eles não param de falar (ou quando eles esquecem o microfone ligado e você fica meia hora ouvindo a respiração dele).

-Tudo nos hostels funciona a base de máquinas de moedas de 2 dólares. Quer usar o PC? 2 dólares. Máquina de lavar? 2 dólares. Secadora de roupas? 2 dólares. Pelo menos o chá é de graça.

-Falando em hostels, wifi gratis e ilimitado é artigo de luxo, entre os que eu me hospedei só 3 tinham.

-Algumas trilhas são desnecessariamente bem cuidadas. Se você precisa de uma “ponte” de madeira pra passar por um buraco de meio metro de diâmetro e 30 cm de profundidade, você não deveria estar fazendo trilha. Depois reclamam que o orçamento do DoC (Department of Conservation) não dá pra nada.

-Muitos dos locais que eu chamei de cidade tecnicamente não são cidades pelas definições neo-zelandesas (aglomerações urbanas com mais de 50 mil habitantes). Pra simplificar chamei tudo que tem supermercado de cidade, o que não tem de vila. Daí vocês podem entender porque eu nunca ficava muito tempo numa vila.

-Maoris ou são extremamente bombados, tipo jogador de Rugby, ou são extremamente gordos.

-O pessoal lá gosta de falar. Fui num supermercado em Auckland e perguntei sobre uma boa cerveja local pra um transeunte aleatório, e o cara só faltou citar a proporção exata de malte e lúpulo e cada uma das dezenas de marcas disponíveis na prateleira.

-Falando em cerveja, tirando as “gourmet”, dificilmente você vai achar garrafas avulsas no supermercado. Ou você compra um 12 pack, ou não compra.

-Como já foi dito antes, é muito tranquilo pegar carona no país. Mesmo mulheres sozinhas fazem isso o tempo todo.

-Lugares aparentemente fodas que eu não fui: Mt. Taranaki, Nelson Lakes, Golden Bay, White Island, Stewart Island, Kaikoura, Marlborough Sounds, as Great Walks... é, preciso voltar lá algum dia.

E agora é só esperar pra saber quando (ou se) isso aqui vai ser atualizado de novo. Cheers mate!


terça-feira, 10 de junho de 2014

A Terra da Longa Nuvem Branca, segunda parte.

Nelson


Nelson foi minha primeira parada da Ilha do Sul, depois de 3:30h de travessia de balsa no Estreito de Cook. A cidade é portão de entrada para o Abel Tasman National Park, o menor e mais visitado parque nacional da Nova Zelândia. Inicialmente praia não estava nos meus planos (afinal, eu moro no Brasil), mas como o parque fica próximo do porto da balsa, e todo mundo me recomendou veementemente ir pra lá, eu acabei pagando pra ver, e não me arrependi.

O parque realmente é muito bonito, com praias de areia dourada cercadas por um mar incrivelmente azul e florestas incrivelmente verdes, ou seja, todo aquele estereótipo de paraiso tropical (ignorem o fato de que ele fica na mesma latitude de Nova York e as plantas são de clima temperado).  Fiz uma trilha de 13km no parque, que apesar de ter seus sobes e desces, é bem fácil, passando por belíssimas praias (as quais não lembro o nome de nenhuma) e volta e meia dando um mergulho na água gelada. O único problema é que eu calculei mal o tempo de caminhada, e terminei a trilha muito cedo. Imaginei que ia chegar no ponto e poder ficar de bobeira na praia enquanto esperava meu ônibus, mas a maré baixa transformou a praia num pântano em que eu teria que andar pra caralho pra chegar no mar, então eu deixei pra lá.

Split Apple.


Praia que eu não lembro o nome.


Acho que essa é Anchorage, mas não tenho certeza.

Costa Oeste


No total fiquei 3 dias em Nelson (a cidade é agradável e o hostel era excelente) e desci de ônibus pela costa oeste, a região menos populosa da Nova Zelândia, basicamente um pedaço de terra espremido entre as montanhas e o oceano. Como vocês podem imaginar a estrada é belíssima, cheia de escarpas que dão direto no mar, e com florestas ainda preservadas, coisa rara em outras regiões do país. A maior atração da estrada é a Punakaiki, ou Pancake Rocks, uma série de ritmitos que foi esculpida pelo mar gerando formações impressionantes.

Punakaiki


Blowhole.


Minha parada na costa oeste foi na vila de Franz Josef, próxima a geleira de mesmo nome. Mais uma vila minúscula cercada por belas paisagens, apesar de que essa é bem mais “alto padrão”. O tempo não ajudou em nada e eu fiquei o dia inteiro preso dentro do hostel jogando jogos de tabuleiro com um holandês e um coreano (não vai ser a última vez que vocês vão ouvir falar deles), então não tive tempo de fazer nada além de uma rápida caminhada até a geleira. Infelizmente ela está se retraindo, então só dá pra ver ela bem de longe, e o único acesso até ela é de helicóptero, que obviamente custa os olhos da cara. Não se compara com Perito Moreno, na Argentina. Me disseram depois que a vizinha geleira de Fox tem uma vista bem melhor, mas agora já foi.


Franz Josef Glacier.


Wanaka


Meu próximo destino foi Wanaka, na região dos lagos. É uma cidadezinha turística bastante movimentada, principalmente no inverno, e tem varias opções de trilhas pra todos os gostos. Escolhi a do Roy’s Peak, um morro de 1500m de altitude na saida da cidade. Como eu saí bem cedo, tive que andar os 8km até o início da trilha porque a estrada não levava a lugar nenhum e pouquíssimos carros estavam passando (e os que passavam não estavam parando). Enfim, foi um bom aquecimento. A subida não é difícil, mas é longa, e durante boa parte do trajeto eu estava caminhando num pasto cheio de ovelhas (Nova Zelândia e tal...), então além de me preocupar com meu ritmo eu tinha que me preocupar em desviar dos montes de bosta fresca que tinham no caminho. O dia estava muito quente e isso atrapalhou um pouco a subida, mas depois de cerca de 3 horas eu cheguei ao topo, com uma vista fenomenal do lago Wanaka e dos alpes, com destaque para o belo cume nevado do Mt. Aspiring. Na volta pedi carona e um tiozão barbudo numa Harley Davidson parou  e me levou de volta pra cidade, terminando de forma épica uma trilha bem divertida.


Wanaka com o Roy's Peak ao fundo.


Lago Wanaka visto do topo do Roy's Peak.




Queenstown


Fiquei 3 dias em Wanaka e segui rumo a Queenstown, que se auto intitula “The Adventure Capital of the World”, e é o lar do bungee jump. A cidade é muito legal, e tem bastante coisa pra se fazer mesmo se você for medroso ou pão duro, e fica numa região muito bonita, à beira do lago Wakatipu e cercada por montanhas.  O único problema é quem tem turistas demais, mas enfim... Como eu não estava lá pra ficar passeando na cidade, fui logo atrás de morros pra subir. No primeiro dia foi o Queenstown Hill, de 900m. Subida tranquila (a pior parte é a rua que dá acesso à ele), com bela vista da cidade e do lago. No segundo dia bizarramente nevou, e as montanhas amanheceram brancas, deixando a paisagem ainda mais legal. Resolvi subir o morro do teleférico, que eu obviamente não peguei porque como tudo naquela cidade, era caro e a subida não era tão difícil assim. Lá em cima tinha um luge (um carrinho de rolimã metido a besta) que parecia ser a coisa mais divertida do mundo, mas que custava 30 dólares POR DESCIDA. Obviamente dispensei, mas fiquei com mó inveja das crianças (e seus pais) brincando. Quem sabe quando eu for milionário. No fim do dia fui com o pessoal do hostel num pub, porque eu queria subir o Mt. Ben Lomond (~1800) no dia seguinte e aparentemente a tradição é subir de ressaca.


Lago Wakatipu.


Queenstown vista do topo da gôndola.


Quem são essas pessoas?


Acordei cedo (e sem ressaca), e iniciei a subida. Não achei difícil, só o final que é um bocado íngreme e cansa um pouco. Levei 3 horas pra subir e o topo tinha uma vista sensacional, com o azul bizarro do lago cercado de montanhas, além de ser um excelente lugar pra se tirar fotos estúpidas. Almocei, relaxei um pouco e desci. No dia seguinte basicamente fiquei no hostel porque não parou de chover, e no outro acordei bem cedo, conheci minha futura esposa (pena que ela ainda não sabe disso) e fui em direção à Milford Sound pela belíssima Milford Road.


Vista pro outro lado.


Não façam isso em casa.




Milford Sound


Milford Sound é um dos maiores pontos turísticos do país, um fjord espetacular no litoral sudoeste da Ilha do Sul, num parque convenientemente chamado de Fiordland National Park. Também é um dos lugares mais chuvosos do mundo, com média de quase 7000mm de chuva por ano (pra se ter uma idéia,na capital mais chuvosa do Brasil, Belém, chove “apenas” 3000). Felizmente o dia estava completamente limpo, sem uma nuvem no céu. Geralmente a maioria das pessoas chega lá, embarca em um dos diversos barcos de passeio disponíveis, vai até a boca do fjord e volta (o lugar é incrivelmente movimentado entre meio dia e 4 da tarde, fora desse horário não tem ninguem). Eu obviamente fiz mais que isso, e acertei duas noites numa das duas únicas acomodações do lugar. Logo de cara conheci um casal de suiços com seu filho pequeno, e peguei carona com eles até a trilha do lago Marian, uns bons 30km de distância do fjord. A trilha é bem fácil, 1:30 de caminhada num terreno quase plano (embora repleto de coisas que te fazem tropeçar), até chegar no lago encravado no meio das montanhas, que como vocês podem imaginar, é muito foda. Ficamos lá por um tempo e depois voltamos pro hostel.


Milford Road


Milford Sound em um raro dia de sol.


Lago Marian.



O dia seguinte amanheceu com uma cerração fudida, e eu já tava achando que ia ficar assim o dia todo, mas lá pras 10 da manhã o céu abriu. Foi daí que eu comecei a prestar atenção na maior maldição da Nova Zelândia (depois dos motoristas), as terríveis sandflies. Essas mosquinhas minúsculas são literalmente bichos do capeta (segundo a lenda maori, elas foram criadas pela deusa do submundo pra impedir que humanos se apropriassem do lugar, ou pelo menos é isso que eles falam pros turistas), e vão te perseguir ferozmente em qualquer lugar num raio de 20 metros da margem. São zilhões delas e a picada coça pra caralho, e elas ainda dão um jeito entrar debaixo da roupa, deu até saudade dos borrachudos de Ilhabela. Enfim, chega de falar da parte ruim. Conheci dois israelenses e peguei uma carona com eles até a trilha do Gertrude Saddle (nenhuma dessas trilhas era no fjord propriamente dito, ele é íngreme demais), uns 15km da vila. A “trilha” é complicada, basicamente um paredão de pedra e você que se vire pra achar o melhor caminho. Depois de duas horas chegamos no fim, uma “sela” (não sei a palavra disso em português) com vista pra um vale animal com uma ponta do fjord ao fundo. Sem dúvida uma das melhores vistas que eu já tive. Fiquei seriamente tentado em continuar e subir um dos morros em volta, mas não me pareceu uma boa idéia na hora. Voltamos pro início da trilha, os israelenses seguiram pra cidade de Te Anau (rsrsrsrsrs) e eu peguei carona de volta pra vila. Confesso que fiquei com medo de ter que andar os 15km até o hostel porque já era um pouco tarde e não passou carro nenhum por mais de 20 minutos. Eventualmente eu fui salvo por um cara que ia pro hostel e ficou tudo bem.



Olha a chuva!


É mentira!


Vista da Gertrude Saddle com o fjord ao fundo.


Acordei as 6 da madrugada pra o passeio de caiaque que eu tinha acertado no dia anterior. Tinha diversas opções para todos os braços e bolsos, acabei escolhendo uma que não era muito longa nem muito cara, já que eu nunca tinha remado na vida, e depois de uma rápida aula de Introdução ao Remo I e Laboratório de Resistência à Sandflies II estavamos na água remando entre as encostas do fjord. Dando uma rápida checada no Google Earth foram cerca de 10km de remada, mas não achei difícil, apesar de que não sei até que ponto ficar no mesmo caiaque do guia influenciou nisso. De qualquer forma, como era muito cedo pudemos aproveitar o fjord inteiro praticamente só pra nós, e a sensação de fazer um lanche boiando entre paredões de 1500m de altura é indescritível. Também vimos focas e até um pinguim no caminho. Enfim, muito foda. Depois disso, infelizmente meu tempo em Milford Sound acabou e no começo da tarde peguei um ônibus pra Te Anau (rsrsrsrsrs).


Belo lugar pra um café da manhã.


Ali o fjord acaba. É mais longe do que parece.


E essa cachoeira é mais alta do que parece.

Essa foi a segunda parte do meu relato. A terceira e última vem qualquer dia desses, e junto com ele (espero que) uma conclusão decente, ao contrário dessa. Até lá.

A porra do blogspot cagou a formatação e agora por algum motivo não consigo deixar esse final na mesma fonte do resto do texto. Blood and bloody ashes!