sexta-feira, 17 de maio de 2013

Pucón, terra de araucárias e vulcões.



Cheguei em Santiago no começo da tarde e já fui direto do aeroporto pra rodoviária. Meu ônibus pra Pucón saia apenas as 21, então o plano inicial era deixar minhas tralhas em algum locker e dar uma volta pela cidade, mas primeiro eu tinha que descobrir de onde sairia meu ônibus (a rodoviária de Santiago é composta por varios terminais independentes, um do lado do outro, com 50 plataformas cada 1, e são uma bagunça generalizada). Como isso demorou um pouco, eu tava morrendo fome e ainda tive que ir atrás de uma lan house pra avisar o pessoal no Brasil que eu ainda tava vivo, acabei desistindo e fiquei sentado num canto mais sossegado de um dos terminais. Do nada apareceu um vira lata preto, aparentemente atraido pela minha aura de mendigo, e ficou deitado com a cabeça no meu colo. Ainda bem que ele não tinha pulgas. Eventualmente deu a hora de partir, me despedi do meu amigo canídeo, enfrentei a muvuca do terminal, entrei no ônibus, apaguei e segui rumo ao sul.


El perro negro de la alameda..

















Cheguei em Pucón, no centro-sul do país por volta das 7 da manhã, e já fui direto pro hostel (El Refúgio), que ficava literalmente do outro lado da rua. Rolou uma festa na noite anterior, então as coisas estavam bem bagunçadas, e tinha um australiano bêbado no sofá. Já deu pra perceber que lá era um hostel mais tradicional, em que rola maior interação entre os hospedes, com viajantes trabalhando em troca de hospedagem, esse tipo de coisa, diferentemente do hostel de San Pedro que era mais familiar. Outra coisa interessante é que eles tem tendas com camas do lado de fora, que são cerca de 2000 pesos mais baratas que os quartos internos. Obviamente foi onde eu fiquei no começo, e tirando um leve cheiro de cachorro molhado, não vi problema algum (pelo menos no verão).

Larguei minhas coisas lá e fui dar uma volta na cidade, que tem por volta de 30 mil habitantes, e é extremamente organizada. Um fato interessante é que como eles tem um vulcão no quintal de casa, todo dia ao meio dia eles tocam um alarme, meio que pra manter a população em alerta. A cara que o pessoal novo no hostel fazia quando ouvia o alarme pela primeira vez era impagável. Dei uma caminhada na orla do lago Villarica, tirei dúzias de fotos do vulcão de mesmo nome, e fui no supermercado atrás de algo pra comer (felizmente os preços eram bem mais baixos que em San Pedro, e a água torneiral era boa pra beber), voltei pro hostel (que já estava arrumado a essa altura) e fiquei trocando idéia com a galera. Eventualmente me chamaram pra jantar, e fomos eu, uma holandesa, uma norueguesa e aquele australiano bêbado (que não era nem um pouco discreto nas suas tentativas de catar a norueguesa) comprar comida e vinho, fizemos o jantar e ficamos conversando com o povo. Uma coisa interessante é que diferentemente de San Pedro, que era claramente dominada por brasileiros, a variedade de nacionalidades em Pucón era muito maior, com uma leve predominância dos onipresentes australianos, e de holandeses (o dono do hostel é holandês, então deve ter alguma relação com isso). Aliás, tirando um casal de SP que ficou 2 dias lá, eu era o único brasileiro do hostel. Deve ter sido a 1ª primeira vez na vida que eu fiquei 5 dias sem falar português (meu portuñol ao tentar falar com os locais não conta).


Villarica visto do Villarica.

















O dia seguinte amanheceu com chuva, e num lugar onde praticamente toda atividade é ao ar livre, não tinha muita coisa pra se fazer. Decidimos ir numas termas próximas, já que se era pra se molhar, que se molhe direito. Pegamos um ônibus e fomos. Aliás, essa é uma grande vantagem de Pucón em relação à San Pedro: tirando aqueles passeios que exigem equipamento especial (vulcão, rafting, coisas do tipo), todo o resto pode ser feito por conta própria, nada de ficar preso nos horários escrotos das agências de viagem. Chegamos lá e ficamos de bobeira na água por umas duas horas (exceto na piscina mais quente, onde eu não aguentei ficar 5 minutos), eventualmente entrando no rio de água geladíssima, porque como diria uma das meninas, “boys will be boys”. Voltamos pro hostel, compramos mais vinho (só uns 1000 pesos a garrafa, era uma por dia por pessoa) e fomos dormir cedo (esse negócio de água quente da sono).


Termas. Tinha mais 3 piscinas além dessa.

















O outro dia amanheceu com sol, então decidi fazer uma trilha. Fui eu, uma australiana e uma americana pra o Santuário El Cañi, uma reserva particular na saida da cidade. Chegamos lá por volta das 10:30 da manhã e começamos a subida. A trilha é bastante íngreme, indo de cerca de 300 metros de altitude até mais de 1500 no mirante, e tirando uma estrada desativada no começo da trilha, é feita no meio de uma mata de araucárias, com alguns lagos no meio, bem bonito. Chegamos no topo por volta das 14:30 e eu comi meu macarrão gelado de ontem sentado numa pedra na beira da morte certa, com vista panorâmica para 3 vulcões ativos: Lanin, com 3700m, Quetrupillan, com 2300 (que deve ter tido uma erupção muito forte no passado, porque tá faltando metade da montanha) e o já citado Villarica, de 2800, vulcão de estimação da cidade e que eu iria subir no dia seguinte. Tiramos um cochilo lá em cima (eu saí da beira do abismo antes disso, imprudência tem limite) e descemos rápido porque queriamos pegar o busão das 17:00. Grande erro. Meu joelho começou a doer ainda na descida, e como eu já tinha acertado pra subir o vulcão no outro dia, isso cheirava a desastre. De qualquer forma eu iria. Antes de dormir, eu reservei mais duas noites no hostel porque Pucón é mó legal e Santiago, onde eu planejava passar os últimos dias de viagem, parece uma São Paulo menos feia. Pena que as tendas tavam cheias e eu tive que ir pro quarto interno e mais caro.


Vulcão Lanin.



Araucárias na Laguna Negra

Não sei o que fazer com a mão em fotos.

Vista do mirante. Lanin, Quetrupillan e Villarica.



No dia seguinte acordei cedo e logo o tour chegou para nos levar ao Villarica. O início da subida é numa antiga estação de esqui destruida por uma erupção nos anos 70 ou 80, a 1400 metros de altitude. Logo de cara meu joelho já deu sinais de vida (ou de morte), principalmente nas cinzas escorregadias. Depois de um tempo chegamos na neve, e aí que a vaca foi pro brejo de vez. Apesar da maior aderência dos grampos no gelo em relação à bota na cinza, o peso dos grampos e das “caneleiras” acabaram com o resto de força que meu joelho direito tinha. Eventualmente escorreguei e não consegui dobrar mais o joelho, dando fim à minha ascenção a 2600 metros de altitude, a apenas 200 (verticais, nós subiamos em zigue zague) do cume. Um dos guias seguiu com a galera, e o outro me ajudou a descer, usando bastões de esqui como muleta. Sim, eu me senti um fracasso na hora, tanto que nem animei de tirar fotos, mesmo com a vista sendo sensacional. Ainda me sinto, pra falar a verdade. Um dia eu volto lá e subo aquilo até o fim. Pelado.


Única foto que eu tirei no vulcão, ainda na parte de cinzas.

















No outro dia eu fiquei o tempo todo no hostel respondendo por que meu joelho estava imobilizado. De noite rolou um churrasco pra receber o pessoal que tinha saido pra um trekking de 3 dias e eu fiquei com a galera comendo e bebendo. A única coisa que eu não sei é se rolou um terremoto naquela noite ou se fui eu que bebi demais.

No dia posterior (sim, tô forçando porque não aguento mais começar parágrafos com “no dia seguinte” e “no outro dia”) meu joelho já estava bem melhor, então resolvi fazer uma trilha leve. Escolhi o salto El Claro, uma cachoeira de 85 metros de altura, que fica a alguns km da cidade. Sai da cidade, entrei numa estrada de terra e fui andando, seguindo o mapa desenhado tosco que tinha no hostel. Mais ou menos três horas depois que eu sai eu cheguei num ponto onde eu não fazia mais idéia de pra onde eu tinha que ir, e não tinha ninguem pra perguntar por perto. Imaginei que tivesse pego um caminho errado e quanto fui voltar, dei de cara com uma mamãe porca com seus porquinhos exatamente onde eu queria passar. Ela começou a andar na minha direção, eu tentei dar a volta e ela grunhiu algo que certamente significava “YOU SHALL NOT PASS!!” em suino. Como eu não tenho idéia do quão agressivas porcas paridas são, fiquei procurando a cachoeira ali mais um tempo (dava pra ouvir o barulho do rio), mas eu não achei a trilha que levaria pro salto. A noite tava caindo, eu não tinha levado agasalho nenhum, então eventualmente desisti, e como os porcos já tinham ido embora, eu voltei por aquele caminho e cheguei no hostel com mais um falhanço na bagagem.



"Mapa" pra chegar na cachoeira

















No último dia eu decidi fazer algo bem leve, já que tinha que pegar um ônibus de noite, e o tempo tava horrível. Peguei um ônibus pro Lago Caburgua, que fica a uns 20km de Pucón. É um lago comum, não sei se foi por causa do tempo feio, mas não me pareceu mais legal que o lago Villarica, do lado da cidade. Em compensação, ali próximo ficam os Ojos de Caburgua, um complexo de corredeiras e cachoeiras que desaquam num pequeno lago, muito bonito. Eu ficaria horas por lá, mas tinha turistas demais. De qualquer forma é um lugar que vale a pena, um excelente jeito de terminar minha estadia na cidade.O final da viagem foi o de praxe: vinho, conversas, busão, aeroporto, avião, Brasil.


Lago Caburgua.

Ojos del Caburgua.

















Pucón é um lugar sensacional, dava pra ver isso na cara de todos que se despediam da cidade.Fiquei uma semana lá e não fiz metade  do que poderia. Por um lado é chato saber que eu fui no lugar e deixei um monte de coisas pra fazer, mas ao mesmo tempo é bom porque tenho um motivo pra voltar lá algum dia. Dezenas de vulcões pra se ver (ou subir), o parque nacional Huerquehue (ctrl+c ctrl+v salva) que foi recomendado por 11 em cada 10 pessoas que estiveram lá, atividades aquáticas, enfim, muita coisa. Um dia eu volto lá, e acho que vai demorar menos do que eu imagino.

Esse foi o fim das minhas andanças no Chile. Duas semanas sensacionais, que até me inspiraram reviver esse blog. Agora ele provavelmente vai entrar em novo hiato por tempo indeterminado (não que alguem se importe), mas quem sabe eu consigo convencer o Bruno e/ou a Jacqueline a postar algo da viagem deles pro Peru. Live long and prosper.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Perdido no deserto.


... e nós chegamos em Rijeka, pegamos um trem pra Munique, de lá pegamos outro pra Paris, voltamos pro Brasil e fomos felizes para sempre. Fim.

Pronto, agora que finalmente terminamos o relato de nossa aventura em terras europeias (com quase 3 anos de atraso), está na hora de tomar novos rumos. Após ficar um tempo quieto no meu canto, eu resolvi seguir carreira solo, e andei viajando forever alone en la sudamerica. Então, como não tinha nada melhor pra fazer, decidi atualizar o blog com essas viagens (espero que os outros 2 não me processem por isso), mesmo sabendo que só 4 pessoas vão ler. Não vou fazer um relato das minhas andanças pelo extremo sul do continente ano passado, porque faz tempo e eu não lembro de muitos detalhes (mentira, eu lembro, só não tô a fim mesmo), apenas contarei a história das minhas idas e vindas pelo Chile em março desse ano, e já vou alertando que o post tá gigante. Sem mais delongas, vamos lá.

A minha primeira parada foi em San Pedro de Atacama, no norte do país, perto da tríplice fronteira com Argentina e Bolívia. Esse trecho eu decidi fazer de avião a partir de Santiago porque não estava a fim de ficar 24 horas seguidas dentro de um ônibus pra ir e mais 24 pra voltar (fiz algo parecido na patagônia e foi beeeeeeeeem chato). O vôo chega na cidade de Calama (terra do Cobreloa, de boas recordações para os flamenguistas) e no aeroporto veio a primeira “grande” decisão da viagem: pegar um transfer direto pra San Pedro por 10 mil pesos (mais ou menos 45 reais) ou um por 3 mil pro centro de Calama, onde eu poderia encontrar um ônibus mais barato? Obviamente escolhi a segunda opção, e quando descobri que o ônibus custava 2 mil pesos, parecia que eu tinha feito uma excelente escolha. Infelizmente a porra do busão atrasou duas horas e eu tava com uma fome fudida, então tenho minhas dúvidas se foi uma boa idéia. Depois de muita espera eu finalmente cheguei no hostel em San Pedro (hostal Tuyasto, recomendado!), comprei comida e água e apaguei na cama.


Porque lhamas são muito mais legais do que eu.

















O dia seguinte começou da pior forma possível. As duas polonesas que estavam no meu quarto estavam indo embora as 6 da manhã e resolveram acordar o hostel inteiro no processo. Pra piorar, eu acordei com “ressaca”, não sei se causada pela altitude (San Pedro fica a 2500m de altitude) ou pela secura do deserto, e quando eu fui dar uma golada na agua que eu comprei, percebi que era água com gás. Aliás, falando em clima seco, como todo mundo que terminou o ensino fundamental sabe, o Atacama é o lugar habitado mais seco do mundo, então se um dia for pra lá leve kgs de hidratante bucal. Ou você pode fazer que nem eu e ligar o foda-se. Depois de plenamente abastecido com água de verdade (5 litros por dia em média, haja banheiro) eu saí pra explorar a cidade. Como eu cheguei de noite, não tinha visto ainda a cordilheira dos Andes ainda, que na região é um pouco diferente do que imaginamos: ao invés da tradicional barreira de picos nevados que vem na cabeça quando pensamos na cordilheira, era um paredão de vulcões. A maioria deles está inativo, mas isso não os torna menos impressionantes, já que muitos tem mais de 6 mil metros de altitude, com destaque para o imponente Licancabur.


Vulcões, com o Licancabur ao centro.

Mais vulcões.


 A cidadezinha é bem pequena, cerca de 5 mil habitantes, mais o dobro disso de cachorros, e uma horda de turistas, principalmente brasileiros, tanto que só se ouvia português na rua principal. Eventualmente me contaram que ia ter uma maratona no deserto promovida por alguma empresa daqui, e por isso tinha tanto brasileiro nesse lugar. Fechei os passeios com umas das zilhões de agências que tem na rua principal (é quase tudo a mesma coisa, eles até juntam pessoas de agências diferentes na mesma van pra alguns passeios) por 90 mil pesos, comi um frangão com batata por 3 mil pesos (melhor custo benefício de San Pedro) e fui pro primeiro passeio, o Valle de la Luna.


Sempre corre-se o risco de tropeçar num desses.

















O vale fica numa pequena cordilheira chamada Cordillera de la Sal, a poucos quilometros de San Pedro. É um lugar totalmente inóspito, onde não cresce rigosoramente nada (como o próprio nome diz, é tudo feito de sal). Quer dizer, seria totalmente inóspito não fossem as dezenas de turistas que vão lá diariamente, mas enfim. É um passeio curto e simples, bom pra aclimatação, e o pôr do sol no topo do vale é bem bonito.


Duas Marias e Meia no Valle de la Luna.

Isso é tudo sal.

Pôr do sol sobre o vale.


No dia seguinte acordei cedo pra o segundo passeio, a ida até o Salar de Tara. É um lago no meião do deserto, quase na divisa com a Argentina, e também foi o tour mais longo que eu fiz por lá. Foi aí que eu cometi um erro, já que esse é foi o ponto mais alto da viagem (o salar fica a 4300m, mas no caminho nós passamos de 4900), e eu não estava totalmente aclimatado ainda. Resultado: larguei meu café da manhã por lá, mas de boa, o importante é voltar vivo. O lago em si não tem nada de mais, é bonito, com um monte de flamingos e montanhas ao fundo, mas o caminho até ele foi um dos destaques da viagem (se descontarmos o fato de que eu estava passando mal, mas tudo bem...), um desertão sem estradas e com formações rochosas impressionantes, com destaque para Las Catredales. E como não tinha aquela caralhada de turistas dos outros passeios, a sensação de isolamento é indescritível.


Lago no trajeto para o Salar.

Insira aqui sua piada sobre objetos fálicos preferida.

Isolamento (ignore as marcas de pneu)

Catedrales de Tara.

Salar de Tara com douzenas de Flamingos.











































































De noite fiquei socializando com a galera no hostel, a maioria obviamente de brasileiros, com o eventual gringo que se juntava a nós, todos muito gente boa. É uma das melhores coisas de ficar em hostel, trocar idéia com um monte de gente, cada um vindo de um canto e com planos de viagem completamente diferentes, muito útil pra quem vai viajar na porralouquice, algo que pretendo fazer num futuro não muito distante. Sem contar fatos curiosos, como conhecer duas garotas, uma de cada canto do mundo, que tocam harpa. Não é todo dia que se conhece uma harpista, ainda mais duas, e bonitas ainda por cima. Eventualmente o cansaço me venceu e eu dormi como se não houvesse amanhã.


A gangue brasileira: Fabiola, Sarah, Ana, Rafael, e eu com cara de bunda.

















Mas havia, então eu tive que acordar cedo novamente, dessa fez pra conhecer as lagunas altiplânicas, e o salar de atacama. As lagunas (na verdade são lagos) são duas, Miscanti  e Miniques, separadas por um derrame de lavas, a 4100 metros de altitude (mas dessa vez eu tirei de letra). É um lugar bem bonito, ao pé de um vulcão, mas a maioria do parque é off-limits, então não deu pra chegar muito perto dos lagos, e nem andar em busca de novos pontos de observação. Ficamos um tempo lá e depois fomos pra um antigo leito de um rio, que formou um pequeno canyon. Não tinha muito o que ver, mas é sempre divertido subir em pedras como um macaco (vide nome do blog) pra tirar fotos estúpidas. A próxima parada foi o Salar de Atacama, que segundo o guia é o terceiro campo de sal mais extenso do mundo (nunca acredite cegamente no que o guia fala), cheio de pequenos lagos e montinhos de sal, onde os flamingos se alimentam (mas tinha bem menos que em Tara, por exemplo), bem interessante.


Laguna Miscanti, Tatooine

Laguna Miñiques.

Nemo.

Salar de Atacama




























































No dia seguinte acordei às 3:30 da matina pra ir ao campo de geiseres El Tatio, um dos mais altos do mundo (4200m). O motivo de ser tão cedo é porque é mais fácil visualizar os jatos de vapor no escuro e no frio. E tava frio pra cacete, agradabilíssimos 6 graus negativos, mesmo sendo no final do verão. Os geiseres não são muito altos, mas é um lugar bem legal, principalmente pra o eventual geólogo ou geofísico que saiba identificar as besteiras que os guias falam. Como de praxe, o excesso de turistas atrapalha um pouco, mas acabei trombando com a Fabiola e a Dorothea, que estavam hospedadas no hostel, por lá. No final, tinha um banho em uma piscina de água termal, que eu pretendia tomar, mas como eu sou burro (não vai ser a última vez que você vai ler isso nesse texto) eu esqueci a toalha no hostel. Como além de burro eu sou idiota, eu pulei assim mesmo. A piscina não era grande coisa, a água era só morna, pra depois sair molhado naquele frio do cacete. Mas tudo bem, afinal viajar e não fazer nada extremamente estúpido não tem a menor graça. Pena que nessa hora eu me separei das meninas e não tinha ninguem pra tirar foto, mas eu pulei, eu juro!


Eu devia ter levado chá.


Fumarolas.






























No almoço fomos pra um restaurante onde eu resolvi brincar de roleta russa, e me dei bem. Veio um peixe ao molho de alho muito gostoso, com crepe de sobremesa, bom pra variar um pouco a minha dieta de frango com batata e omelete. E de tarde eu fiz o último passeio do pacote, a laguna (qual o problema desse pessoal que fica chamando lago de laguna? Não é a mesma coisa!) Cejar, um lago salgado bem fundo no meio do salar de Atacama, em que é impossível afundar, tipo no mar morto. É divertido por 5 minutos, mas depois disso o fato de não poder afundar a cabeça e a dor de todos os cortes que eu tive na vida encheram o saco, e ainda tinha que aturar um monte de adolescente chileno barulhento. Pra compensar, o pôr do sol no salar é bem legal, e eu fiquei tomando pisco sour (artificial, doce pra caralho, mas de graça até ônibus errado) conversando com uma francesa que aparentemente queria me pegar e com o único chileno mais gente boa daquela galera. Vou ficar devendo fotos do lugar, porque eu sou burro e esqueci minha câmera no hostel.

Esse foi o fim dos passeios contratados, mas eu ainda tinha um tempo na cidade, então fui atrás de coisa pra fazer por conta própria. Decidi ir na Pukará de Quitor, uma antiga fortaleza quechua utilizada pra defender a região das invasões incas, 3 séculos antes da invasão europeia. Não é uma Machu Pichu, mas é bem legal, principalmente por ser muito perto da cidade (apenas 3km), por ter uma excelente visão do Valle de la Muerte, uma formação geológica fodona, e não ter turistas. Fiquei quase uma hora de bobeira em cima do mirante ouvindo Pink Floyd vendo a paisagem e não apareceu ninguem, muito foda. De noite fui no tour astronômico, onde vamos pra um observatório com telescópios (não é o ALMA, antes que alguem pergunte) no meio do deserto olhar pro espaço. O céu noturno do deserto é impressionante, principalmente pra quem mora em cidade grande, então o tour é divertido, mas não vale os 18 mil pesos que eu paguei (apesar de ter o melhor banheiro do mundo). No dia seguinte não fiz nada além de bater papo com a galera do hostel, e de noite aproveitamos que todo mundo ia vazar no dia seguinte, juntamos a brasileirada, mais um casal de franceses e um israelense maluco (pleonasmo?) e ficamos enchendo a cara e falando merda até sabe-se lá que horas. Acordei correndo as 8:15 da manhã pra pegar a van pro aeroporto (não quis arriscar do ônibus atrasar de novo e eu perder o vôo) e dei adeus ao deserto.


Pukará de Quitor.

Valle de la Muerte.































O Atacama é um lugar impressionante. A paisagem árida, os vulcões e aquela sensação de “como diabos as pessoas conseguem viver aqui” contribuem para ser um dos lugares mais fodas que eu já estive. O único porém é que você acaba ficando “refém” das agências de turismo e seus horários. Várias vezes eu queria ficar nos lugares mais tempo, dar uma volta, pensar na morte da bezerra, coisas do tipo, mas não pude porque tinha que voltar correndo pra van. Esse é um problema quando se tem que arrumar tudo através de agencias, mas ao mesmo tempo não é como se desse pra fazer tudo por conta própria sem carro, então é um mal necessário. Os preços também são bem altos, qualquer pão com ovo sai por 1000 pesos (quase 5 reais). Mas tudo isso é irrelevante comparado as paisagens magníficas do lugar. Próximo post, Pucón!

Ou não, a chance de eu ficar com preguiça e o blog morrer de novo são bastante razoáveis. Sem contar que o Bruno e o Thico são muito mais engraçados do que eu.