quinta-feira, 19 de junho de 2014

A Terra da Longa Núvem Branca: O Fim.

Te Anau/Queenstown


Te Anau é porta de entrada pro Fiordland National Park, na beira do maior lago da ilha, e segundo maior do país. Minha estadia na pequena cidade foi bem curta, apenas pra descansar e escolher pra onde eu iria depois. Acabei me decidindo pelo Mt Cook National Park, então fiquei somente uma noite lá e voltei pra Queenstown, que era de onde o ônibus sairia. Infelizmente estava tudo lotado no Mt Cook então eu tive que ficar mais 3 dias na cidade fazendo nada num hostel bem pior que o que eu fiquei da primeira vez. Passei a maior parte do tempo tentando decidir se eu deveria ou não saltar de Bungee Jump, mas no final os 260 dólares que eles cobravam pelo de 130m (o de 40m custava 180) foram mais fortes e eu deixei pra lá.

Mt Cook


O Mt. Cook National Park fica na região central da ilha, e eu sai de Queenstown bem cedo. O dia amanheceu nublado, mas no caminho até lá paramos no lago Pukaki e como se fosse tudo armado, as nuvens se abriram e revelaram a montanha mais alta do pais, que somada ao azul intenso do lago forma uma vista impressionante. Cheguei a vila do parque por volta do meio dia e como de praxe fui atrás de trilhas leves pra começar.  Escolhi a do lago Hooker, uma trajeto plano que levou cerca de 1:30 de caminhada a partir do hostel. O lago não é bonito, meio esbranquiçado e a geleira que desemboca nele é cinza. Mas a vista do Mt. Cook (Aoraki – O Perfurador de Núvens, na linha maori) é impressionante, parece que você pode nadar até ele. Obviamente não é pra tanto, mas ainda assim são apenas 10km horizontais até o cume, ou seja: é muito perto. Falando em nadar, reencontrei o holandês e o coreano de Franz Josef lá, e apostei cerveja com eles de que eu mergulharia no lago. Tinha icebergs boiando e uma massa de gelo de alguns km² logo ali na frente, então vocês podem ter noção da temperatura da água. As coisas que uma pessoa do sexo masculino faz por cerveja de graça... Enfim, mergulhei, e assim como em Geiranger na longínqua Noruega no não menos longínquo ano de 2010, a água é tão fria que você sai dela suando. Parando pra pensar agora, tem uma foto minha mergulhando de cueca no lago na câmera do holandês. Espero que ele não esteja usando ela pra fins escusos. Voltamos pro hostel, jogamos um pouco,  tomei minhas cervejas gratis e fui dormir cedo porque a trilha do dia seguinte prometia ser pesada.


Lago Pukaki e Mt. Cook

Mt Cook National Park

Água quentinha. Só que não.


A trilha citada era a do Mueller Hut, um alojamento no meio das montanhas, a 1800m de altitude, e eu fui com um inglês e um alemão do hostel. A primeira metade da trilha é um saco: 500 metros de subida numa escada com degraus completamente desnivelados, de forma que não ajuda muito na hora de subir (mas são uma maravilha pra descer), no meio de uma floresta bastante úmida, que somada ao calor incomum do dia cansou bastante. Alcançamos um mirante (onde a maioria das pessoas dá meia volta) e chegamos na parte divertida: uma subida no estilo “se vira negão”, apenas com pequenos postes coloridos indicando pra que lado você deve ir, mas como se chega lá é com você. Essa parte era ainda mais íngreme, mas pelo menos você sente que está fazendo algo de útil, ao invés de simplesmente subir uma porcaria de escada. Depois de cerca de 3 horas do começo chegamos em outro mirante, com vista espetacular do vale, das geleiras e do Mt. Cook. Eventualmente escutavamos algo parecido com um trovão, e viamos pequenas avalanches nas montanhas do outro lado do vale (ou que pareciam pequenas de longe). Mais uns 10 minutos de caminhada fácil e chegamos no alojamento. Ele é bem legal, com capacidade pra 28 pessoas e uma cozinha melhor que a de muitos hostels. Almoçamos lá e decidimos subir o pequeno morro que tinha atrás do alojamento. Depois eu descobri que foi a primeira escalada que o Sir Edmund Hillary fez na vida, o que obviamente significa que eu estou no caminho certo e que um dia subirei o Everest. Ficamos umas 2 horas no alojamento (eu devia ter dormido lá, mas eu já tinha pago a segunda noite no hostel) relaxando e assistindo o gelo se desprender nas geleiras próximas, e depois descemos (nessa hora eu agradeci pelas escadas). Cheguei morto de cansaço no hostel, joguei mais um pouco com o pessoal, tomei mais cerveja as custas do holandês e capotei na cama. No dia seguinte pensei em finalizar minha estadia no parque com uma caminhada curta, mas minhas pernas tavam doendo, então tudo que eu fiz foi esperar meu ônibus pra Christchurch e deixei a vila no início da tarde. 



Mt. Cook e Lago Hooker vistos do mirante.

A vila láááá embaixo.

Do topo do Mt. Olivier (~2000m)

Mueller Hut com o Mt. Cook ao fundo.


Christchurch



No caminho paramos no lago Tekapo, que tem um azul ainda mais impressionante que o Pukaki, mas sem a vista da montanha. Gostei mais do Pukaki, mas a maioria das pessoas preferem o Tekapo. Enfim... Christchurch é a maior cidade da Ilha do Sul, e terceira maior do país, com 350 mil habitantes. A cidade ganhou os noticiários do mundo inteiro 3 anos atrás pelo terremoto que matou cerca de 200 pessoas e transformou o centro da cidade na maior concentração de lotes vazios per capita do mundo (essa estatística eu acabei de inventar). Ou seja: não tem porra nenhuma pra fazer. O que tinha de interessante da cidade ou ta interditado (os prédios históricos que resistiram estão passando por uma reforma estrutural completa) ou simplesmente não existe mais. Era um dia de semana, começo da tarde, e eu poderia andar no meio da rua se eu quisesse, mesmo em vias que não estavam fechadas ao trânsito! Fico na esperança de que façam algo legal na reconstrução da cidade como fizeram em Napier. Minha intenção inicial era ficar somente uma noite na cidade, comprar uma passagem barata (na medida do possível) pra Auckland e a partir daí decidir meu próximo destino. Como obviamente as passagens tavam muito caras eu decidi arriscar, visitar algum outro lugar próximo e comprar as passagens depois. Minhas melhores opções eram Arthur’s Pass, no meio dos alpes, e Kaikoura, no litoral, e a escolha seria puramente financeira. Pra facilitar minha escolha, acabei conhecendo uma francesa no hostel que me ofereceu uma carona até Arthur’s Pass, mas somente no dia seguinte. Peguei mais uma noite no hostel, e no outro dia no começo da tarde rumamos para montanha.


Lago Tekapo

Arthur's Pass



Arthur’s Pass é um belo vale relativamente fora do radar da maioria dos turistas, a umas duas horas de carro de Christchurch. No caminho para lá paramos no Castle Hill, um pequeno parque repleto de grandes rochas de calcario aleatoriamente “jogadas” numa colina, bem legal e continuamos para aquela que é a menor das “vilas de um restaurante, uma casa e dois hostels” que eu visitei. Fomos até uma cachoeira próxima (Devil’s Punchbowl) de 130 metros de altura, a francesa seguiu viagem e eu fui pro hostel. O parque tem diversas trilhas com vários níveis de dificuldade, e é o segundo parque com maior número de mortes de turistas burros no país, atrás apenas do Mt. Cook (que é bem mais visitado). Escolhi a do Avalanche Peak, uma das mais fáceis, que ainda assim tinha nível de dificuldade considerado alto, com 1800 metros de altitude.



Castle Hill

Devil's Punchbowl


A trilha é bastante inclinada do inicio ao fim, mas estranhamente eu não me cansei muito. Talvez eu estivesse ficando bom nesse negócio de subir morro, ou então a australiana que tava comigo que era muito devagar. Também não é recomendada pra quem tem medo de altura,já que em algumas passagens se anda bem na beira de um abismo. Enfim, chegamos ao topo em pouco menos de 3 horas, almoçamos e recebemos a “visita” de um kea, um papagaio alpino endêmico da região, que ficou posando pra fotos. Descemos por outro caminho (essa trilha tem duas rotas até o topo, obviamente subimos pela mais difícil), e depois de 3 horas (sim, demoramos mais pra descer que pra subir) estavamos de volta a vila. Muito legal esse lugar, eu ficaria facilmente mais tempo lá pra explorar as outras trilhas, mas eu tinha que pegar um avião e minha comida já tava acabando, então no outro dia bem cedo peguei uma carona de volta pra Christchurch.



Arthur's Pass visto do Avalanche Peak

Mt. Rolleston

Provavelmente a melhor foto que eu já tirei na vida.

Devil's Punchbowl de outro ângulo.


Parei no aeroporto disposto a sair de lá com a passagem pra Auckland comprada. Cheguei no balcão da Air New Zealand e perguntei o vôo mais barato nos próximos 4 dias: 180 dólares pro dia seguinte ao meio dia. Ok, tava mais barato que na Jetstar (a low cost do país). Comprei e fui atrás de hospedagem em Christchurch, mas não achei nada por menos 60 dólares. Ou seja: eu não iria só ter que passar a noite no aeroporto. Eu ia passar UM DIA INTEIRO no aeroporto. Eu poderia ir pra cidade passar o tempo, mas eu já sabia o que tinha pra fazer lá (nada), então preferi ficar no aeroporto mesmo e economizar o dinheiro do busão.  Basicamente o wifi gratis e o 3DS mantiveram minha sanidade durante a noite (obviamente não dormi), e no meio da madrugada anunciaram que meu vôo (que vinha do Japão, por isso que tava bem mais barato que o resto) iria atrasar em 3 horas. Fui no balcão e mudaram minha passagem pra um vôo as 6 da manhã, então ao invés de ficar 24 horas no aeroporto fiquei apenas 18, puta volta por cima! :D


Bay of Islands


De Auckland fui diretamente pra Bay of Islands (meu preferido entre os nomes de lugares genéricos do país), no extremo norte do pais, disposto a relaxar na praia nos meus últimos dias de viagem. O lugar em si não tem nada de mais (as praias, embora bonitas, não chegam aos pés de Abel Tasman), mas o pessoal do hostel era muito legal, e eu não tava a fim de fazer muita coisa mesmo. Fiquei lá 4 dias e voltei pra Auckland pra pegar meu avião de volta pro Brasil. Acho que todas as 4 pessoas que tão lendo já devem conhecer essa história: meu visto de transito australiano expirou, eu não tinha percebido, e não pude embarcar. Na hora fiquei muito puto, mas depois de pensar melhor decidi aproveitar ao máximo o tempo extra do outro lado do mundo. Dei entrada num visto novo (me cobraram 30 dólares por isso...) e me mandei de Auckland em direção à Coromandel.


Bay of Islands


Coromandel


Coromandel é uma península à leste de Auckland famosa por suas praias e florestas. Fiquei na pequena cidade de Whitianga, que embora seja bem sem graça tem fácil acesso às mais belas praias da região. Sendo o mais breve possível (já tô de saco cheio de escrever), foi um final digno pra viagem (bem melhor que Bay of Islands), com praias belíssimas, como a Lonely Beach, a apenas 15 minutos a pé de Whitianga, e a espetacular Cathedral  Cove (mas essa ficava mais longe, uns 20km). Os preços também eram mais baixos do que a média, então até rolava de sair pra beber vez ou outra (5,50 um pint de cerveja, em Queenstown cobravam mais de 8). Voltei pra Auckland depois que meu visto saiu e finalmente embarquei na longa viagem de volta pra casa.



Lonely Bay com Cooks Beach ao fundo.

Cathedral Cove

O outro lado da praia.


E esse foi o fim da minha viagem pra Nova Zelândia. Pra finalizar o post, vou citar algumas impressões básicas de pouca relevância, mas que eu acho que merecem ser citadas:

-Tem MUITO alemão. Chutando baixo, metade do pessoal que eu conheci vinha de lá. Bastante holandês, sueco, suiço e inglês também. Estranhamente poucos australianos.

-Os motoristas de ônibus também servem de guias turísticos, descrevendo pelo microfone os lugares pelos quais passávamos. É interessante as vezes, mas enche o saco depois de um tempo, principalmente quando você quer dormir e eles não param de falar (ou quando eles esquecem o microfone ligado e você fica meia hora ouvindo a respiração dele).

-Tudo nos hostels funciona a base de máquinas de moedas de 2 dólares. Quer usar o PC? 2 dólares. Máquina de lavar? 2 dólares. Secadora de roupas? 2 dólares. Pelo menos o chá é de graça.

-Falando em hostels, wifi gratis e ilimitado é artigo de luxo, entre os que eu me hospedei só 3 tinham.

-Algumas trilhas são desnecessariamente bem cuidadas. Se você precisa de uma “ponte” de madeira pra passar por um buraco de meio metro de diâmetro e 30 cm de profundidade, você não deveria estar fazendo trilha. Depois reclamam que o orçamento do DoC (Department of Conservation) não dá pra nada.

-Muitos dos locais que eu chamei de cidade tecnicamente não são cidades pelas definições neo-zelandesas (aglomerações urbanas com mais de 50 mil habitantes). Pra simplificar chamei tudo que tem supermercado de cidade, o que não tem de vila. Daí vocês podem entender porque eu nunca ficava muito tempo numa vila.

-Maoris ou são extremamente bombados, tipo jogador de Rugby, ou são extremamente gordos.

-O pessoal lá gosta de falar. Fui num supermercado em Auckland e perguntei sobre uma boa cerveja local pra um transeunte aleatório, e o cara só faltou citar a proporção exata de malte e lúpulo e cada uma das dezenas de marcas disponíveis na prateleira.

-Falando em cerveja, tirando as “gourmet”, dificilmente você vai achar garrafas avulsas no supermercado. Ou você compra um 12 pack, ou não compra.

-Como já foi dito antes, é muito tranquilo pegar carona no país. Mesmo mulheres sozinhas fazem isso o tempo todo.

-Lugares aparentemente fodas que eu não fui: Mt. Taranaki, Nelson Lakes, Golden Bay, White Island, Stewart Island, Kaikoura, Marlborough Sounds, as Great Walks... é, preciso voltar lá algum dia.

E agora é só esperar pra saber quando (ou se) isso aqui vai ser atualizado de novo. Cheers mate!


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