terça-feira, 10 de junho de 2014

A Terra da Longa Nuvem Branca, segunda parte.

Nelson


Nelson foi minha primeira parada da Ilha do Sul, depois de 3:30h de travessia de balsa no Estreito de Cook. A cidade é portão de entrada para o Abel Tasman National Park, o menor e mais visitado parque nacional da Nova Zelândia. Inicialmente praia não estava nos meus planos (afinal, eu moro no Brasil), mas como o parque fica próximo do porto da balsa, e todo mundo me recomendou veementemente ir pra lá, eu acabei pagando pra ver, e não me arrependi.

O parque realmente é muito bonito, com praias de areia dourada cercadas por um mar incrivelmente azul e florestas incrivelmente verdes, ou seja, todo aquele estereótipo de paraiso tropical (ignorem o fato de que ele fica na mesma latitude de Nova York e as plantas são de clima temperado).  Fiz uma trilha de 13km no parque, que apesar de ter seus sobes e desces, é bem fácil, passando por belíssimas praias (as quais não lembro o nome de nenhuma) e volta e meia dando um mergulho na água gelada. O único problema é que eu calculei mal o tempo de caminhada, e terminei a trilha muito cedo. Imaginei que ia chegar no ponto e poder ficar de bobeira na praia enquanto esperava meu ônibus, mas a maré baixa transformou a praia num pântano em que eu teria que andar pra caralho pra chegar no mar, então eu deixei pra lá.

Split Apple.


Praia que eu não lembro o nome.


Acho que essa é Anchorage, mas não tenho certeza.

Costa Oeste


No total fiquei 3 dias em Nelson (a cidade é agradável e o hostel era excelente) e desci de ônibus pela costa oeste, a região menos populosa da Nova Zelândia, basicamente um pedaço de terra espremido entre as montanhas e o oceano. Como vocês podem imaginar a estrada é belíssima, cheia de escarpas que dão direto no mar, e com florestas ainda preservadas, coisa rara em outras regiões do país. A maior atração da estrada é a Punakaiki, ou Pancake Rocks, uma série de ritmitos que foi esculpida pelo mar gerando formações impressionantes.

Punakaiki


Blowhole.


Minha parada na costa oeste foi na vila de Franz Josef, próxima a geleira de mesmo nome. Mais uma vila minúscula cercada por belas paisagens, apesar de que essa é bem mais “alto padrão”. O tempo não ajudou em nada e eu fiquei o dia inteiro preso dentro do hostel jogando jogos de tabuleiro com um holandês e um coreano (não vai ser a última vez que vocês vão ouvir falar deles), então não tive tempo de fazer nada além de uma rápida caminhada até a geleira. Infelizmente ela está se retraindo, então só dá pra ver ela bem de longe, e o único acesso até ela é de helicóptero, que obviamente custa os olhos da cara. Não se compara com Perito Moreno, na Argentina. Me disseram depois que a vizinha geleira de Fox tem uma vista bem melhor, mas agora já foi.


Franz Josef Glacier.


Wanaka


Meu próximo destino foi Wanaka, na região dos lagos. É uma cidadezinha turística bastante movimentada, principalmente no inverno, e tem varias opções de trilhas pra todos os gostos. Escolhi a do Roy’s Peak, um morro de 1500m de altitude na saida da cidade. Como eu saí bem cedo, tive que andar os 8km até o início da trilha porque a estrada não levava a lugar nenhum e pouquíssimos carros estavam passando (e os que passavam não estavam parando). Enfim, foi um bom aquecimento. A subida não é difícil, mas é longa, e durante boa parte do trajeto eu estava caminhando num pasto cheio de ovelhas (Nova Zelândia e tal...), então além de me preocupar com meu ritmo eu tinha que me preocupar em desviar dos montes de bosta fresca que tinham no caminho. O dia estava muito quente e isso atrapalhou um pouco a subida, mas depois de cerca de 3 horas eu cheguei ao topo, com uma vista fenomenal do lago Wanaka e dos alpes, com destaque para o belo cume nevado do Mt. Aspiring. Na volta pedi carona e um tiozão barbudo numa Harley Davidson parou  e me levou de volta pra cidade, terminando de forma épica uma trilha bem divertida.


Wanaka com o Roy's Peak ao fundo.


Lago Wanaka visto do topo do Roy's Peak.




Queenstown


Fiquei 3 dias em Wanaka e segui rumo a Queenstown, que se auto intitula “The Adventure Capital of the World”, e é o lar do bungee jump. A cidade é muito legal, e tem bastante coisa pra se fazer mesmo se você for medroso ou pão duro, e fica numa região muito bonita, à beira do lago Wakatipu e cercada por montanhas.  O único problema é quem tem turistas demais, mas enfim... Como eu não estava lá pra ficar passeando na cidade, fui logo atrás de morros pra subir. No primeiro dia foi o Queenstown Hill, de 900m. Subida tranquila (a pior parte é a rua que dá acesso à ele), com bela vista da cidade e do lago. No segundo dia bizarramente nevou, e as montanhas amanheceram brancas, deixando a paisagem ainda mais legal. Resolvi subir o morro do teleférico, que eu obviamente não peguei porque como tudo naquela cidade, era caro e a subida não era tão difícil assim. Lá em cima tinha um luge (um carrinho de rolimã metido a besta) que parecia ser a coisa mais divertida do mundo, mas que custava 30 dólares POR DESCIDA. Obviamente dispensei, mas fiquei com mó inveja das crianças (e seus pais) brincando. Quem sabe quando eu for milionário. No fim do dia fui com o pessoal do hostel num pub, porque eu queria subir o Mt. Ben Lomond (~1800) no dia seguinte e aparentemente a tradição é subir de ressaca.


Lago Wakatipu.


Queenstown vista do topo da gôndola.


Quem são essas pessoas?


Acordei cedo (e sem ressaca), e iniciei a subida. Não achei difícil, só o final que é um bocado íngreme e cansa um pouco. Levei 3 horas pra subir e o topo tinha uma vista sensacional, com o azul bizarro do lago cercado de montanhas, além de ser um excelente lugar pra se tirar fotos estúpidas. Almocei, relaxei um pouco e desci. No dia seguinte basicamente fiquei no hostel porque não parou de chover, e no outro acordei bem cedo, conheci minha futura esposa (pena que ela ainda não sabe disso) e fui em direção à Milford Sound pela belíssima Milford Road.


Vista pro outro lado.


Não façam isso em casa.




Milford Sound


Milford Sound é um dos maiores pontos turísticos do país, um fjord espetacular no litoral sudoeste da Ilha do Sul, num parque convenientemente chamado de Fiordland National Park. Também é um dos lugares mais chuvosos do mundo, com média de quase 7000mm de chuva por ano (pra se ter uma idéia,na capital mais chuvosa do Brasil, Belém, chove “apenas” 3000). Felizmente o dia estava completamente limpo, sem uma nuvem no céu. Geralmente a maioria das pessoas chega lá, embarca em um dos diversos barcos de passeio disponíveis, vai até a boca do fjord e volta (o lugar é incrivelmente movimentado entre meio dia e 4 da tarde, fora desse horário não tem ninguem). Eu obviamente fiz mais que isso, e acertei duas noites numa das duas únicas acomodações do lugar. Logo de cara conheci um casal de suiços com seu filho pequeno, e peguei carona com eles até a trilha do lago Marian, uns bons 30km de distância do fjord. A trilha é bem fácil, 1:30 de caminhada num terreno quase plano (embora repleto de coisas que te fazem tropeçar), até chegar no lago encravado no meio das montanhas, que como vocês podem imaginar, é muito foda. Ficamos lá por um tempo e depois voltamos pro hostel.


Milford Road


Milford Sound em um raro dia de sol.


Lago Marian.



O dia seguinte amanheceu com uma cerração fudida, e eu já tava achando que ia ficar assim o dia todo, mas lá pras 10 da manhã o céu abriu. Foi daí que eu comecei a prestar atenção na maior maldição da Nova Zelândia (depois dos motoristas), as terríveis sandflies. Essas mosquinhas minúsculas são literalmente bichos do capeta (segundo a lenda maori, elas foram criadas pela deusa do submundo pra impedir que humanos se apropriassem do lugar, ou pelo menos é isso que eles falam pros turistas), e vão te perseguir ferozmente em qualquer lugar num raio de 20 metros da margem. São zilhões delas e a picada coça pra caralho, e elas ainda dão um jeito entrar debaixo da roupa, deu até saudade dos borrachudos de Ilhabela. Enfim, chega de falar da parte ruim. Conheci dois israelenses e peguei uma carona com eles até a trilha do Gertrude Saddle (nenhuma dessas trilhas era no fjord propriamente dito, ele é íngreme demais), uns 15km da vila. A “trilha” é complicada, basicamente um paredão de pedra e você que se vire pra achar o melhor caminho. Depois de duas horas chegamos no fim, uma “sela” (não sei a palavra disso em português) com vista pra um vale animal com uma ponta do fjord ao fundo. Sem dúvida uma das melhores vistas que eu já tive. Fiquei seriamente tentado em continuar e subir um dos morros em volta, mas não me pareceu uma boa idéia na hora. Voltamos pro início da trilha, os israelenses seguiram pra cidade de Te Anau (rsrsrsrsrs) e eu peguei carona de volta pra vila. Confesso que fiquei com medo de ter que andar os 15km até o hostel porque já era um pouco tarde e não passou carro nenhum por mais de 20 minutos. Eventualmente eu fui salvo por um cara que ia pro hostel e ficou tudo bem.



Olha a chuva!


É mentira!


Vista da Gertrude Saddle com o fjord ao fundo.


Acordei as 6 da madrugada pra o passeio de caiaque que eu tinha acertado no dia anterior. Tinha diversas opções para todos os braços e bolsos, acabei escolhendo uma que não era muito longa nem muito cara, já que eu nunca tinha remado na vida, e depois de uma rápida aula de Introdução ao Remo I e Laboratório de Resistência à Sandflies II estavamos na água remando entre as encostas do fjord. Dando uma rápida checada no Google Earth foram cerca de 10km de remada, mas não achei difícil, apesar de que não sei até que ponto ficar no mesmo caiaque do guia influenciou nisso. De qualquer forma, como era muito cedo pudemos aproveitar o fjord inteiro praticamente só pra nós, e a sensação de fazer um lanche boiando entre paredões de 1500m de altura é indescritível. Também vimos focas e até um pinguim no caminho. Enfim, muito foda. Depois disso, infelizmente meu tempo em Milford Sound acabou e no começo da tarde peguei um ônibus pra Te Anau (rsrsrsrsrs).


Belo lugar pra um café da manhã.


Ali o fjord acaba. É mais longe do que parece.


E essa cachoeira é mais alta do que parece.

Essa foi a segunda parte do meu relato. A terceira e última vem qualquer dia desses, e junto com ele (espero que) uma conclusão decente, ao contrário dessa. Até lá.

A porra do blogspot cagou a formatação e agora por algum motivo não consigo deixar esse final na mesma fonte do resto do texto. Blood and bloody ashes!

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