terça-feira, 3 de junho de 2014

A Terra da Longa Nuvem Branca: O Grande Peixe de Maui.

     Atendendo à pedidos (não que tenham sido muitos) decidi fazer um relato “sucinto” sobre os quase dois meses que fiquei na Nova Zelândia no começo do ano (2014, pra aqueles que cairem aqui por acidente ao procurarem por “mt doom nova zelandia” no Google). Não vou enrolar muito com introduções porque sou muito ruim nisso, e vou tentar não me alongar muito nos relatos, porém já vou avisando que eventualmente eu vou me empolgar e escrever parágrafos gigantes detalhando tudo (sem contar os tradicionais parênteses desnecessários, como este), mas no geral vou tentar me manter direto ao ponto. Antes que alguem pergunte, o título do post são as traduções dos nomes maori do país e da Ilha do Norte.

Auckland



     Depois de 45 horas de viagem (me reservo o direito de mandar todo mundo que reclamar de viagem de avião longa tomar no CUH) finalmente cheguei na capital financeira e maior cidade da Nova Zelândia. Auckland não tem nada de mais, é um tanto feia e bagunçada, e apesar de ter um terço da população do pais, não tem muita coisa pra fazer de um ponto de vista turístico. Acabei reservando 4 dias lá pra descansar da longuíssima viagem, o que foi um exagero, e tudo que eu fiz foi andar aleatoriamente por ai, ir num museu de arte maori bem legal (e de graça) e conversar com o pessoal no hostel.


Waitomo


     Vilazinha minúscula, uns 150km ao sul de Auckland, basicamente formada por um restaurante, um centro de informação e meia duzia de acomodações, que é lar das mundialmente famosas Waitomo Caves, onde milhares de larvas brilhantes (glowworms) brilham no escuro dando a impressão de um céu estrelado, muito legal. Ao invés de fazer o que a maioria dos turistas fazem (chegar na vila, ir na caverna, sair da vila), eu decidi ficar alguns dias e visitar a caverna à moda neo-zelandesa: pagando caro pra caralho e correndo “risco” de vida. Acertei com uma das companhias que fazem isso na região (Legendary Blackwater Company, ou algo do tipo), e peguei o pacote “Black Abyss” por 200 NZD (dólares neozelandeses, 1NZD=2 R$). O passeio consiste de um rapel de 36 metros por um buraco de 1 metro de diâmetro no meio do mato (nunca tinha feito rapel antes, é mais fácil do que eu pensava), seguido por uma tirolesa no escuro, passando por um “boiacross” num rio subterrâneo de água geladíssima no meio de milhares de glowworms e finalizando com pequenas escaladas em galerias estreitas, muito legal. O passeio durou umas 5 horas e definitivamente valeu a pena.

Eu prestes a entrar no buraco.


Rotorua


     Rotorua tem cerca de 60 mil habitantes, é a capital da cultura maori no país, e destino turístico mais popular da Ilha do Norte, com seus geiseres e shows culturais. Acabei ficando  apenas dois dias, por motivos que vou explicar daqui a pouco. A cidade é bem “termal”, com bolhas de lama fervendo por todos os lados, e um cheiro fortíssimo de enxofre, que as vezes beira o insuportável ("se a Ilha do Norte é um peixe, Rotorua fica no CUH dele"). Lá tem bastante coisa pra fazer, como um parque de geiseres coloridos que eu esqueci o nome (chamam de Thermal Wonderland, mas o nome verdadeiro é algo impronunciável em maori), e o Te Puia, que é outro parque de geisers normais que dizem ser foda. Infelizmente tudo que eu tive tempo de fazer foi ir no Redwood Park (novamente, nome de branquelos sem graça, o nome maori é sempre mais legal, pena que eu nunca lembro deles), um parque muito bonito com árvores goganters em que fiz uma trilha com uma alemã aleatória que tomou um pé na bunda do namorado por skype no dia anterior e começou a chorar no meio do mato (não sabia que alemães tinham sentimentos), enquanto eu fingia que não queria estar em qualquer outro lugar do mundo que não fosse ali. Enfim, conforme dito antes, fiquei somente dois dias porque depois de Auckland não quis mais correr o risco de ficar muito tempo em um lugar chato, e chequei na previsão do tempo que o Tongariro National Park ia ter 2 dias de tempo bom naquela semana, então decidi largar tudo e correr pra lá. Não me arrependo, mas pretendo voltar a Rotorua algum dia e ver o resto das atrações (principalmente o Thermal Wonderland).

Redwood
Lago fedido em Rotorua.


Tongariro National Park


     Agora essa porra ficou séria. Pra quem não sabe, o Tongariro National Park é a locação usada pras filmagens de Mordor, daquela série de livros e filmes que você já deve ter ouvido falar. Foi o primeiro parque nacional da Nova Zelândia, composto por 3 vulcões, Ruapehu (2800m), Ngauruhoe (2300m) e Tongariro (1900) e toda a área em torno deles. Fiquei na pequena vila de National Park (Nova Zelândia, capital mundial dos nomes genéricos), que comparada à Waitomo pode ser considerada uma metrópole, já que tinha até um posto de gasolina.  Eu estava lá pra completar a Tongariro Alpine Crossing, 19km de subidas e descidas em paisagens completamente desoladas de vida não turística, e pra os mais dispostos, uma side trip até o cume do Ngaurohoe e Tongariro.

Mt Ngauruhoe com o Mt. Tongariro à esquerda.



     Peguei uma carona com um israelense que ia pro parque bem cedo, já que fiquei com medo de perder o onibus de volta, então preferi ir mais cedo de carro mesmo já tendo pago o transporte, o que se provou desnecessário. O início da trilha, situado a mais ou menos 1100 metros de altitude, é bem fácil, quase plano, até uma hora que do nada você chega num paredão que pode assustar os mais despreparados (Devil’s Staircase), mas que não é um grande problema pra quem não usa elevador pra subir um andar. Depois de andar por uma hora e meia e subir aproximadamente 500m em 6km desde o ponto inicial, cheguei no Magatetepopo Saddle (ou Mangatepo, ou Mangatetepo, ou Mangatepopo, sei lá), e ali começava a hora da verdade.Do lado esquerdo, o Monte Tongariro, com seu cume já bem erodido e suas várias crateras. Do lado direito, o imponente Ngauruhoe, mundialmente conhecido como modelo pra o Mt Doom do Senhor dos Anéis, com seu cone praticamente simétrico. E pra frente, a trilha segue normalmente. É ali que se separam os meninos dos homens. Descansei por uns 15 minutos, mordi uma barra de chocolate, e segui pra direita.



O começo é de boa, tem até uma passarela.
Mt. Doom.




A subida não tem segredo: basta escolher o caminho onde aparentemente tem menos rochas soltas, e andar pra cima. O problema é justamente esse: pedras soltas. Você dá um passo e não sai do lugar, dá outro e volta dois, finca seu pé nas pedrinhas e finalmente consegue subir, mas se cansa muito mais do que deveria no processo. A sensação é como se eu estivesse subindo uma esteira rolante de 600 metros de altura ao contrário, coberta de graxa. Ah, e você ainda tem que se preocupar em desviar das rochas soltas que são derrubadas pelo pessoal que tá acima de você (a cada 2 minutos tinha alguem gritando ROOOOOOOOOOOOCK). Na metade do caminho eu já estava exausto. No final eu tava me arrastando, e cheguei na cratera depois de duas horas e pouco de subida basicamente na força de vontade (depois do fracasso no vulcão Villarica, eu decidi que ia subir essa porra nem que fosse a última coisa que eu fizesse). Do topo, a vista é espetacular, ainda mais com tempo limpo. Se vê quase todo o parque, e inclusive foi possível ver o cume do Monte Taranaki, uns 150km a oesde de lá. Fiquei na borda da cratera por cerca de meia hora descansando e apreciando a vista, e não tava nem ai pro fato de que se aquela porra decide explodir a chance de sobrevivência seria zero (tava mais preocupado com o frio desgraçado e o vento que parecia que ia me jogar dentro da cratera). Na descida, basicamente escorreguei nas rochas e 20 minutos depois estava de volta em Mangatetepopo com minhas botas entupidas de pedras.


Minha perna cansa só lembrar.

Mt. Ruapehu visto do topo. Não parece, mas ele é 500m mais alto.

Blue Lake visto do topo do vulcão.


Ok, a parte mais difícil já foi, mas eu ainda tinha mais 13km de caminhada até o fim da trilha. Em tese seria fácil (verdade seja dita, a trilha principal não é nem um pouco difícil pra alguem relativamente saudável), o problema é que eu não tinha mais perna, e mesmo as subidas restantes não sendo nada de outro mundo, elas deram muito trabalho, principalmente a subida até a Red Crater, que provavelmente é a mais bonita do parque (alem de arrancar risos de todas as pessoas imaturas presentes, inclusive este que vos escreve). Ali era o ponto mais alto da trilha normal (1800m), e se pode alcançar facilmente o topo do Mt. Tongariro. “Facilmente” em condições normais, entretanto eu não conseguia subir mais um passo. Também havia muito mais gente na trilha, já que o pessoal que chegou nos ônibus me alcançou por causa da subida do vulcão. Depois dali, as coisas ficam bem mais fáceis, é basicamente uma interminável descida, passando pelos belíssimos Emerald Lakes e Blue Lake, e terminando num estacionamento a 700m de altitude. Terminei a trilha 15:35 (os horários dos ônibus de volta eram 15:30 e 17:00), ou seja, dava tempo de fazer tudo sem precisar acordar mais cedo, mas fizeram tanto terrorismo sobre gente que chegava depois do último ônibus que eu preferi não arriscar.


Emerald Lakes.

Blue Lake

Pra baixo todo santo ajuda.

Me obrigue!


No dia seguinte só descansei no hostel, e tentei reservar a balsa de Wellington pra Ilha do Sul, mas ela estava lotada pelos próximos 4 dias, e de National Park só tinha ônibus pra Wellington e Auckland. Como não queria ficar 4 dias em Wellington e voltar pra Auckland estava fora de cogitação, acabei aceitando a sugestão do pessoal e logo cedo no outro dia arrisquei pegar uma carona na beira de estrada pra Taupo, a maior cidade da região (apesar de só ter uns 20 mil habitantes), e de onde eu poderia ia facilmente pra qualquer lugar, ou mesmo ficar lá, já que é um importante polo turístico. Foi surpreendentemente fácil, não fiquei nem 20 minutos parado na estrada, e cheguei em Taupo no começo da tarde, ainda sem a menor idéia do que ia fazer. Acabei encontrando o israelense de Tongariro, e fui com ele pra um parque de geiseres nos arredores da cidade. Depois eventualmente encontrei uma holandesa que eu já tinha encontrado em Rotorua e Tongariro, que me falou que em Taupo não tinha muito o que fazer pra quem não queria gastar muito dinheiro, e me chamou pra ir pra Napier. O fato de ela ser gatíssima pode ou não ter influenciado na minha decisão.


Napier


Napier fica na costa leste da Ilha do Norte, e tem cerca de 60 mil habitantes. A cidade foi destruida por um terremoto nos anos 30 e totalmente reconstruida em Art Deco. Não entendo porra nenhuma de arquitetura, mas a cidade realmente é bem bonitinha e agradável. Além disso, é a capital do vinho branco na Nova Zelandia. Fora isso, não tem muita coisa pra fazer, mas o pessoal do hostel era bem legal e eles tinham uma mesa de sinuca no meio do lobby, então acabei desistindo de Wellington e fiquei 3 dias lá coçando o saco (e jogando sinuca, claro).



Antes do terremoto isso tudo tava embaixo dágua.


Wellington


A capita do pais fica no extremo sul da Ilha do Norte (que fica mais ao sul que o extremo norte da Ilha do Sul), e tem cerca de 400 mil habitantes. É praticamente unânime a opinião de que é a melhor cidade da Nova Zelândia, entretanto só fiquei uma noite lá, então as únicas conclusões que cheguei é que ela parece Niterói, e venta pra caralho. Acabei só dando uma volta pela orla, e realmente a cidade me deu uma boa impressão, mas eu tinha que acordar cedo pra pegar a balsa e o hostel era daqueles enormes em que é quase impossível socializar com quem não estiver no seu quarto, então acabei não fazendo nada por lá.


Cheers, North Island.



Este foi o fim (temporário) das minhas andanças na Ilha do Norte. No próximo post (se houver), vou relatar minhas voltas na Ilha do Sul, que é bem mais legal que o norte, então as chances de eu me empolgar e ficar um negócio enorme são grandes. Estejam avisados.

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