terça-feira, 14 de maio de 2013

Perdido no deserto.


... e nós chegamos em Rijeka, pegamos um trem pra Munique, de lá pegamos outro pra Paris, voltamos pro Brasil e fomos felizes para sempre. Fim.

Pronto, agora que finalmente terminamos o relato de nossa aventura em terras europeias (com quase 3 anos de atraso), está na hora de tomar novos rumos. Após ficar um tempo quieto no meu canto, eu resolvi seguir carreira solo, e andei viajando forever alone en la sudamerica. Então, como não tinha nada melhor pra fazer, decidi atualizar o blog com essas viagens (espero que os outros 2 não me processem por isso), mesmo sabendo que só 4 pessoas vão ler. Não vou fazer um relato das minhas andanças pelo extremo sul do continente ano passado, porque faz tempo e eu não lembro de muitos detalhes (mentira, eu lembro, só não tô a fim mesmo), apenas contarei a história das minhas idas e vindas pelo Chile em março desse ano, e já vou alertando que o post tá gigante. Sem mais delongas, vamos lá.

A minha primeira parada foi em San Pedro de Atacama, no norte do país, perto da tríplice fronteira com Argentina e Bolívia. Esse trecho eu decidi fazer de avião a partir de Santiago porque não estava a fim de ficar 24 horas seguidas dentro de um ônibus pra ir e mais 24 pra voltar (fiz algo parecido na patagônia e foi beeeeeeeeem chato). O vôo chega na cidade de Calama (terra do Cobreloa, de boas recordações para os flamenguistas) e no aeroporto veio a primeira “grande” decisão da viagem: pegar um transfer direto pra San Pedro por 10 mil pesos (mais ou menos 45 reais) ou um por 3 mil pro centro de Calama, onde eu poderia encontrar um ônibus mais barato? Obviamente escolhi a segunda opção, e quando descobri que o ônibus custava 2 mil pesos, parecia que eu tinha feito uma excelente escolha. Infelizmente a porra do busão atrasou duas horas e eu tava com uma fome fudida, então tenho minhas dúvidas se foi uma boa idéia. Depois de muita espera eu finalmente cheguei no hostel em San Pedro (hostal Tuyasto, recomendado!), comprei comida e água e apaguei na cama.


Porque lhamas são muito mais legais do que eu.

















O dia seguinte começou da pior forma possível. As duas polonesas que estavam no meu quarto estavam indo embora as 6 da manhã e resolveram acordar o hostel inteiro no processo. Pra piorar, eu acordei com “ressaca”, não sei se causada pela altitude (San Pedro fica a 2500m de altitude) ou pela secura do deserto, e quando eu fui dar uma golada na agua que eu comprei, percebi que era água com gás. Aliás, falando em clima seco, como todo mundo que terminou o ensino fundamental sabe, o Atacama é o lugar habitado mais seco do mundo, então se um dia for pra lá leve kgs de hidratante bucal. Ou você pode fazer que nem eu e ligar o foda-se. Depois de plenamente abastecido com água de verdade (5 litros por dia em média, haja banheiro) eu saí pra explorar a cidade. Como eu cheguei de noite, não tinha visto ainda a cordilheira dos Andes ainda, que na região é um pouco diferente do que imaginamos: ao invés da tradicional barreira de picos nevados que vem na cabeça quando pensamos na cordilheira, era um paredão de vulcões. A maioria deles está inativo, mas isso não os torna menos impressionantes, já que muitos tem mais de 6 mil metros de altitude, com destaque para o imponente Licancabur.


Vulcões, com o Licancabur ao centro.

Mais vulcões.


 A cidadezinha é bem pequena, cerca de 5 mil habitantes, mais o dobro disso de cachorros, e uma horda de turistas, principalmente brasileiros, tanto que só se ouvia português na rua principal. Eventualmente me contaram que ia ter uma maratona no deserto promovida por alguma empresa daqui, e por isso tinha tanto brasileiro nesse lugar. Fechei os passeios com umas das zilhões de agências que tem na rua principal (é quase tudo a mesma coisa, eles até juntam pessoas de agências diferentes na mesma van pra alguns passeios) por 90 mil pesos, comi um frangão com batata por 3 mil pesos (melhor custo benefício de San Pedro) e fui pro primeiro passeio, o Valle de la Luna.


Sempre corre-se o risco de tropeçar num desses.

















O vale fica numa pequena cordilheira chamada Cordillera de la Sal, a poucos quilometros de San Pedro. É um lugar totalmente inóspito, onde não cresce rigosoramente nada (como o próprio nome diz, é tudo feito de sal). Quer dizer, seria totalmente inóspito não fossem as dezenas de turistas que vão lá diariamente, mas enfim. É um passeio curto e simples, bom pra aclimatação, e o pôr do sol no topo do vale é bem bonito.


Duas Marias e Meia no Valle de la Luna.

Isso é tudo sal.

Pôr do sol sobre o vale.


No dia seguinte acordei cedo pra o segundo passeio, a ida até o Salar de Tara. É um lago no meião do deserto, quase na divisa com a Argentina, e também foi o tour mais longo que eu fiz por lá. Foi aí que eu cometi um erro, já que esse é foi o ponto mais alto da viagem (o salar fica a 4300m, mas no caminho nós passamos de 4900), e eu não estava totalmente aclimatado ainda. Resultado: larguei meu café da manhã por lá, mas de boa, o importante é voltar vivo. O lago em si não tem nada de mais, é bonito, com um monte de flamingos e montanhas ao fundo, mas o caminho até ele foi um dos destaques da viagem (se descontarmos o fato de que eu estava passando mal, mas tudo bem...), um desertão sem estradas e com formações rochosas impressionantes, com destaque para Las Catredales. E como não tinha aquela caralhada de turistas dos outros passeios, a sensação de isolamento é indescritível.


Lago no trajeto para o Salar.

Insira aqui sua piada sobre objetos fálicos preferida.

Isolamento (ignore as marcas de pneu)

Catedrales de Tara.

Salar de Tara com douzenas de Flamingos.











































































De noite fiquei socializando com a galera no hostel, a maioria obviamente de brasileiros, com o eventual gringo que se juntava a nós, todos muito gente boa. É uma das melhores coisas de ficar em hostel, trocar idéia com um monte de gente, cada um vindo de um canto e com planos de viagem completamente diferentes, muito útil pra quem vai viajar na porralouquice, algo que pretendo fazer num futuro não muito distante. Sem contar fatos curiosos, como conhecer duas garotas, uma de cada canto do mundo, que tocam harpa. Não é todo dia que se conhece uma harpista, ainda mais duas, e bonitas ainda por cima. Eventualmente o cansaço me venceu e eu dormi como se não houvesse amanhã.


A gangue brasileira: Fabiola, Sarah, Ana, Rafael, e eu com cara de bunda.

















Mas havia, então eu tive que acordar cedo novamente, dessa fez pra conhecer as lagunas altiplânicas, e o salar de atacama. As lagunas (na verdade são lagos) são duas, Miscanti  e Miniques, separadas por um derrame de lavas, a 4100 metros de altitude (mas dessa vez eu tirei de letra). É um lugar bem bonito, ao pé de um vulcão, mas a maioria do parque é off-limits, então não deu pra chegar muito perto dos lagos, e nem andar em busca de novos pontos de observação. Ficamos um tempo lá e depois fomos pra um antigo leito de um rio, que formou um pequeno canyon. Não tinha muito o que ver, mas é sempre divertido subir em pedras como um macaco (vide nome do blog) pra tirar fotos estúpidas. A próxima parada foi o Salar de Atacama, que segundo o guia é o terceiro campo de sal mais extenso do mundo (nunca acredite cegamente no que o guia fala), cheio de pequenos lagos e montinhos de sal, onde os flamingos se alimentam (mas tinha bem menos que em Tara, por exemplo), bem interessante.


Laguna Miscanti, Tatooine

Laguna Miñiques.

Nemo.

Salar de Atacama




























































No dia seguinte acordei às 3:30 da matina pra ir ao campo de geiseres El Tatio, um dos mais altos do mundo (4200m). O motivo de ser tão cedo é porque é mais fácil visualizar os jatos de vapor no escuro e no frio. E tava frio pra cacete, agradabilíssimos 6 graus negativos, mesmo sendo no final do verão. Os geiseres não são muito altos, mas é um lugar bem legal, principalmente pra o eventual geólogo ou geofísico que saiba identificar as besteiras que os guias falam. Como de praxe, o excesso de turistas atrapalha um pouco, mas acabei trombando com a Fabiola e a Dorothea, que estavam hospedadas no hostel, por lá. No final, tinha um banho em uma piscina de água termal, que eu pretendia tomar, mas como eu sou burro (não vai ser a última vez que você vai ler isso nesse texto) eu esqueci a toalha no hostel. Como além de burro eu sou idiota, eu pulei assim mesmo. A piscina não era grande coisa, a água era só morna, pra depois sair molhado naquele frio do cacete. Mas tudo bem, afinal viajar e não fazer nada extremamente estúpido não tem a menor graça. Pena que nessa hora eu me separei das meninas e não tinha ninguem pra tirar foto, mas eu pulei, eu juro!


Eu devia ter levado chá.


Fumarolas.






























No almoço fomos pra um restaurante onde eu resolvi brincar de roleta russa, e me dei bem. Veio um peixe ao molho de alho muito gostoso, com crepe de sobremesa, bom pra variar um pouco a minha dieta de frango com batata e omelete. E de tarde eu fiz o último passeio do pacote, a laguna (qual o problema desse pessoal que fica chamando lago de laguna? Não é a mesma coisa!) Cejar, um lago salgado bem fundo no meio do salar de Atacama, em que é impossível afundar, tipo no mar morto. É divertido por 5 minutos, mas depois disso o fato de não poder afundar a cabeça e a dor de todos os cortes que eu tive na vida encheram o saco, e ainda tinha que aturar um monte de adolescente chileno barulhento. Pra compensar, o pôr do sol no salar é bem legal, e eu fiquei tomando pisco sour (artificial, doce pra caralho, mas de graça até ônibus errado) conversando com uma francesa que aparentemente queria me pegar e com o único chileno mais gente boa daquela galera. Vou ficar devendo fotos do lugar, porque eu sou burro e esqueci minha câmera no hostel.

Esse foi o fim dos passeios contratados, mas eu ainda tinha um tempo na cidade, então fui atrás de coisa pra fazer por conta própria. Decidi ir na Pukará de Quitor, uma antiga fortaleza quechua utilizada pra defender a região das invasões incas, 3 séculos antes da invasão europeia. Não é uma Machu Pichu, mas é bem legal, principalmente por ser muito perto da cidade (apenas 3km), por ter uma excelente visão do Valle de la Muerte, uma formação geológica fodona, e não ter turistas. Fiquei quase uma hora de bobeira em cima do mirante ouvindo Pink Floyd vendo a paisagem e não apareceu ninguem, muito foda. De noite fui no tour astronômico, onde vamos pra um observatório com telescópios (não é o ALMA, antes que alguem pergunte) no meio do deserto olhar pro espaço. O céu noturno do deserto é impressionante, principalmente pra quem mora em cidade grande, então o tour é divertido, mas não vale os 18 mil pesos que eu paguei (apesar de ter o melhor banheiro do mundo). No dia seguinte não fiz nada além de bater papo com a galera do hostel, e de noite aproveitamos que todo mundo ia vazar no dia seguinte, juntamos a brasileirada, mais um casal de franceses e um israelense maluco (pleonasmo?) e ficamos enchendo a cara e falando merda até sabe-se lá que horas. Acordei correndo as 8:15 da manhã pra pegar a van pro aeroporto (não quis arriscar do ônibus atrasar de novo e eu perder o vôo) e dei adeus ao deserto.


Pukará de Quitor.

Valle de la Muerte.































O Atacama é um lugar impressionante. A paisagem árida, os vulcões e aquela sensação de “como diabos as pessoas conseguem viver aqui” contribuem para ser um dos lugares mais fodas que eu já estive. O único porém é que você acaba ficando “refém” das agências de turismo e seus horários. Várias vezes eu queria ficar nos lugares mais tempo, dar uma volta, pensar na morte da bezerra, coisas do tipo, mas não pude porque tinha que voltar correndo pra van. Esse é um problema quando se tem que arrumar tudo através de agencias, mas ao mesmo tempo não é como se desse pra fazer tudo por conta própria sem carro, então é um mal necessário. Os preços também são bem altos, qualquer pão com ovo sai por 1000 pesos (quase 5 reais). Mas tudo isso é irrelevante comparado as paisagens magníficas do lugar. Próximo post, Pucón!

Ou não, a chance de eu ficar com preguiça e o blog morrer de novo são bastante razoáveis. Sem contar que o Bruno e o Thico são muito mais engraçados do que eu.

Um comentário:

  1. Po, mó inveja. Vulcões fodas. =/

    E po, o blog não vai morrer. De 2 em 2 anos alguém posta algo.

    ResponderExcluir